GUILHERME W. MACHADO Woody Allen é um daqueles poucos cineastas cuja figura pública é tão conhecida e mitificada de múltiplas formas que acaba por interferir na forma como o grande público – e, surpreendentemente, uma parcela razoável da crítica – vê sua obra. Aqui não me cabe nenhuma avaliação da sua pessoa, mas como cineasta Allen construiu uma carreira miraculosa (num ritmo sobrenatural de um filme por ano, coisa que acho que nunca foi sustentada por tantas décadas por cineasta nenhum), com número considerável de obras primas e, principalmente, com uma coesão temática absurda. Me espanta como ainda tem críticos que (por puro eco e raciocínio preguiçoso, só pode) seguem repetindo que ele é um diretor que não pensa na forma ou nas imagens, apenas no texto, quando é nítido na carreira do cineasta quantas vezes ele soube reinventar sua forma e experimentar com ela ( Zelig , Annie Hall , Manhattan , e até o recente Roda Gigante , dentre tantos outros, são exemplos crassos). Suas obses