MATHEUS R.B. HENTSCHKE
No Oscar 2015, Alejandro González Iñárritu se sagrou o grande vencedor da noite levando quatro estatuetas com o seu filme Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância): Melhor Fotografia, Melhor Roteiro Original, Melhor Diretor e Melhor Filme. Ainda que não tenha sido do meu agrado sua polêmica película, após um Oscar disputado e imprevisível, nada mais justo do que começar as críticas pós-premiação com um filme do grande destacado da noite, Babel.
O filme apresenta várias histórias interligadas em vários
países, devido ao ato de dois meninos, no Marrocos, que acabaram por alvejar uma
turista americana sem terem o real intuito. Após esse momento, Babel desenvolve
o quanto essa irresponsável atitude irá afetar a vida de diversas pessoas, como
o marido da americana alvejada (Brad Pitt) e ela própria (Cate Blanchett), a da
empregada do casal que cuida de seus dois filhos nos Estados Unidos, a da
família do menino marroquino e de uma jovem japonesa surda e muda que, inicialmente,
não possui conexão aparente.
Se Birdman eu julguei como vasto em truques
cinematográficos e jogos de câmera, todavia escasso de um conteúdo mais
elaborado, Babel não comete tais erros e consegue ser uma película que bem
equilibra a notória habilidade técnica de Iñárritu, com um roteiro intrincado e
coeso. O desenvolvimento de cada um dos quatro focos narrativos apresenta uma
complexidade e uma dinâmica que enriquece a obra de sobremaneira, tornando-a
muito mais do que simples enredos que apresentam algumas histórias de alguns
personagens. Babel é maior do que uma trama e ousado o suficiente para fazer
uma sutil, porém grandiosa alegoria sobre a vida.
Em um ponto de vista macro, a película mostra diversas
culturas como pano de fundo em que seus personagens estão inseridos, bem
ilustradas pelas tomadas de Iñarritu seja de Marrocos e do México com toda sua
pobreza, ainda que bem distintas, seja no Japão, com suas grandes metrópoles, colocando
o espectador não apenas em uma história, todavia o situando nesse ambiente
macro. Entretanto, há o ambiente micro, em que cada personagem tem sua vida e
suas questões a serem resolvidas, todavia um evento bastou para movimentar esse
paradigma e cada um haverá de sofrer um enfrentamento, um desafio a ser
vencido, como se fosse um jogo em que cada participante tem de tentar superar suas
adversidades; no entanto, após a superação de tal obstáculo, o jogo não termina
e para alguns a questão inicial ainda lá está a ser vencida e para outros a
vida já não é a mesma e o evento consumiu o que sobrou dela.
Richard (Brad Pitt) e Susan (Cate Blanchett) têm seu
relacionamento em um estado próximo ao do término, a vida estava em um ponto;
contudo, após ela ter sido alvejada, o primeiro obstáculo estava lançado e
ambos teriam de superar juntos suas dificuldades. Chieko (Rinko Kikuchi), a
menina surda e muda, tem a dificuldade de se relacionar com meninos como sua
grande meta a ser superada, mas que, após o seu esgotamento psicológico e a
breve entrada do tenente Kenji em sua vida, acaba por ter o início do jogo para
ela. Amelia (Adriana Barraza), a empregada que cuida das crianças, tem sua vida
humilde como trabalhadora e o casamento de seu filho a comemorar, mas que ao
ter de levar as crianças para tal celebração, tem o curso de sua vida alterado.
Por último, os meninos marroquinos se apresentam isolados do mundo, tendo de
viver em uma vida de trabalhos e restrições, mas que ao causarem o evento, tem
o paradigma de suas vidas modificado.
O roteiro de Guillermo Arriaga (também de Amores Brutos e 21 Gramas) mostra, com sua história
aparentemente distante e forçosa, a vida de todos nós: constantemente nos
deparamos com obstáculos a serem vencidos, pequenos jogos que se infiltram nas
questões de nossas vidas e que podem fazer-nos crescer e nos tornar maiores que
qualquer problema prévio ou nos derrubar de uma maneira irreparável. Assim como
na vida, Babel apresenta os que superam e os que são superados, ainda que não
sejam, necessariamente, culpados de sua derrocada. Um roteiro que consegue tamanha
amplitude e abrangência só pode ser classificado como singular e grandioso.
Além disso, a não linearidade que é apresentada para narrar as histórias,
tornam Babel uma obra praticamente impecável no quesito roteiro.
Entretanto, o filme não é feito apenas de um roteiro sólido
e há, por trás das câmeras, uma direção habilidosa que se alia a diversos
pontos técnicos de qualidade, como a montagem e a trilha sonora, a fim de manter
o ritmo constante. Iñarritu consegue conciliar bem essa estrutura macro e micro
do seu roteiro, captando tomadas incríveis de cada país que Babel percorre,
inserindo o espectador não em um cenário, mas em uma cultura e extraindo a essência
da vida e do jogo vivido por cada personagem e seus respectivos resultados. A
montagem é de uma qualidade elevadíssima, conseguindo cortar de um país para o
outro, de uma história para a outra nivelando uma dinâmica ágil com momentos
intensos. Ainda para auxiliar na grandiosidade de Babel, a edição e a mixagem
de som são de notória qualidade, não apenas em alguns momentos, todavia sempre,
conseguindo intensificar a emoção de cada cena e acompanhando a montagem no seu
hábil deslocamento de países e de histórias. Tal ponto pode ser observado na
fantástica cena em que Chieko sai com suas amigas e alguns meninos e, posteriormente,
vai a uma festa, havendo uma constante trilha sonora que é editada e mixada em
alguns pontos, observando silêncios, do ponto de vista de Chieko, e sons, do
ponto de vista dos demais, juntando-se com a engenhosa direção de Iñárritu, o
que tornou aquela sequência a melhor do filme.
De fato, Alejandro G. Iñárritu é verdadeiramente um “show off”, conseguindo atingir com facilidade pontos altos em sua direção. Contudo, em Babel não há truques de câmera vazios, essas artimanhas são acompanhadas de um roteiro eloquente e de uma sonoplastia impecável. Quanto as atuações, nada a assinalar como poderoso, tudo é correto, porém nada se destaca. Iñarritu e Arriaga são as grandes estrelas de Babel; diretor e roteirista.
De fato, Alejandro G. Iñárritu é verdadeiramente um “show off”, conseguindo atingir com facilidade pontos altos em sua direção. Contudo, em Babel não há truques de câmera vazios, essas artimanhas são acompanhadas de um roteiro eloquente e de uma sonoplastia impecável. Quanto as atuações, nada a assinalar como poderoso, tudo é correto, porém nada se destaca. Iñarritu e Arriaga são as grandes estrelas de Babel; diretor e roteirista.
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