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10 Giallos Preferidos (Especial Halloween)


GUILHERME W. MACHADO

Então, pra manter a tradição do blog de lançar uma lista temática de terror a cada novo Halloween (confira aqui a do ano passado), fico em 2017 com o top de um dos meus subgêneros favoritos: o Giallo. Pra quem não tá familiarizado com o nome  e certamente muito do grande público consumidor de terror ainda é alheio à existência dessas pérolas  explico rapidamente no parágrafo abaixo, mas sem aprofundar muito, pois não é o propósito aqui fazer um artigo sobre o estilo. Seja para já apreciadores ou para os que nunca sequer ouviram falar, deixo o Giallo como minha recomendação para esse Halloween, frisando  para os que torcem o nariz – que essa escola de italianos serviu como referência e inspiração para muitos dos que viriam a ser os maiores diretores do terror americano, como John Carpenter, Wes Craven, Tobe Hooper, e até diretores fora do gênero, como Brian De Palma e Quentin Tarantino.

O Giallo, em linhas resumidas, é um subgênero do terror típico da Itália (mesmo que alguns filmes sejam em língua inglesa), marcado pela alta violência, gore, assassinos em série (geralmente com fortes distúrbios psicológicos), uso de flashbacks ou alusão a um passado problemático, cores e estética vibrantes, associação de sexo/sexualidade com morte, uso intenso da câmera como ponto de vista do assassino, e muito, muito sangue. As vítimas, embora não exclusivamente, são majoritariamente femininas, se bem que isso é característica comum em todo gênero de horror. E qualquer semelhança com o mais conhecido "slasher" não é meramente acidental: esse célebre subgênero de filmes como Halloween (1978), Sexta-Feira 13 (1980), e Pânico (1996) é o derivado americano do Giallo italiano (que o precede).



10. O PERFUME DA DAMA DE PRETO (Francesco Barilli, 1974)

Um exemplar vibrante do gênero e uma boa porta de entrada para o mesmo por ser um filme que contém essencialmente todos seus elementos, embora muitos deles tenham sido melhor trabalhados em outras obras. O Perfume da Dama de Preto envolve com bastante eficiência um dos temas mais recorrentes do Giallo: o do passado traumático que causa efeitos violentos no presente. Envolvido numa estética acentuada no seu uso de cores primárias (outra marca registrada do Giallo e do horror italiano desse período num geral), O Perfume da Dama de Preto é um ótimo entretenimento, agradável aos olhos e com uma boa trama de suspense.


09. O SEGREDO DO BOSQUE DOS SONHOS (Lucio Fulci, 1972)

O Fulci mais contido ainda é mais insano que todos filmes dessa lista MENOS o outro Fulci. Em toda sua perturbação – e que ele seguramente não era das pessoas mais "certas" todo mundo desconfia – deve ser ressaltado o quanto Fulci produzia imagens poderosas. Seus filmes, em geral, tem aquela qualidade inexplicável de atordoar o espectador e deixar nele sua marca, mesmo quando essa é negativa (como é o caso de muitos que sentem repulsa por sua obra). O Segredo do Bosque dos Sonhos é um dos seus poucos Giallos ao pé da letra e um filme exemplar no estilo.


08. BANHO DE SANGUE (Mario Bava, 1971)

Se eu fosse mais criterioso com posições e ordenamos em listas diria que é um crime Banho de Sangue estar em oitavo nessa seleção (e, francamente, é). Espetacularmente bem dirigido, vastamente influente, com trabalho de câmera inovador, Banho de Sangue é um marco no cinema de terror, um filme que ressignificou o Giallo e abriu as portas para o slasher, que apareceria 3 anos mais tarde com os clássicos Noite de Terror (Bob Clark, 1974) e O Massacre da Serra Elétrica (Tobe Hooper, 1974). É, como diz a expressão, "crème de la crème", e uma obra obrigatória (possivelmente a mais obrigatória dessa lista inteira) para qualquer conhecedor de terror.

07. OS PASSOS (Luigi Bazzoni, 1975)

O Giallo menos carregado da lista é também o mais estranho e misterioso. Os Passos troca gore pelo quase non-sense e o resultado não é nada menos perturbador. Com uma fotografia inspirada do lendário Vittorio Storaro (de Apocalypse Now) e um cenário particularmente atmosférico num vilarejo pitoresco italiano, Os Passos é um filme cujo constante clima de mistério e sensação de estranheza sugam o espectador com grande eficiência. Um filmaço instigante que mal acaba e já nos deixa na expectativa de rever.

06. O ESQUARTEJADOR DE NOVA YORK (Lucio Fulci, 1982)

Filme cuja óbvia demência lhe rende má fama, como é o caso em muitos Fulcis, mas aqui com particular intensidade, O Esquartejador de Nova York também é uma obra cujos atributos audiovisuais falam altíssimo. De uma modernidade cênica que impressiona, é um filme banhado num jogo de luzes e cores hipnotizante, com cenas espetaculares de suspense/horror e uma montagem que prioriza muito mais o potencial sensorial e rítmico do material do que preocupações narrativas convencionais (aliás, Fulci tinha essa capacidade sublime de jogar a narrativa clássica e o enredo pro alto e mergulhar seus filmes no mais profundo e cativante caos). Um filme que reflete de forma radical e frequentemente detestável toda podridão de uma grande metrópole, algo que pode ser dito tanto em sua defesa quanto em seu detrimento.

05. TENEBRE (Dario Argento, 1982)

Argento, dentre muitas qualidade, é um diretor de close-ups fenomenais. Embora isso possa erroneamente parecer um elogio simplório, afinal o close-up é uma das ferramentas mais banais da linguagem cinematográfica e amplamente utilizada por todos diretores, configura para mim um de seus grandes méritos como cineastas. Em Tenebre fica claro como a água o quanto a percepção aguçada do diretor sobre como e onde inserir detalhes é decisiva na construção da história e o quanto ela transmite em termos de estímulos ao espectador. Detalhes, como uma navalha empunhada pela mão do assassino coberta por uma luva, sapatos vermelhos de salto alto, um livro, uma fotografia, uma lâmpada sendo quebrada, entre outros, são símbolos visuais que evocam certas sensações (pode ser medo, mistério, curiosidade, dedução) no espectador e que em Tenebre são pivotais na forma como Argento nos conduz filme adentro.

04. TORSO (Sergio Martino, 1973)

Sergio Martino deve ser o grande injustiçado do cinema de horror italiano. Tão competente quanto a maioria de seus colegas, nunca alcançou nem uma fração da notoriedade de Argento, Fulci e Bava, a "tríplice coroa" do cinema de terror italiano. Torso é um exemplar magnífico do gênero, e que oferece tudo que esse tem de melhor: pequena cidade interiorana, assassino mascarado, vasto grupo de jovens semi-irracionais para servir de vítimas, e uma trama perfeitamente descomplicada (uma qualidade por vezes pouco apreciada). Um dos filmes mais prazerosos muito embora essa seja uma palavra meio perturbada pra usar com qualquer Giallo  dessa lista.

03. STAGEFRIGHT: DELIRIA (Michele Soavi, 1987)

O canto de cisnes, lançado já quando o gênero caia em completo esquecimento, Stagefright é, dentre os filmes dessa lista, o que mais se aproxima do slasher (sendo muitas vezes também considerado como tal, e não sem razão). Com uma narrativa intensa, de ritmo ágil e imagens poderosas, não deixa de ser uma mistura de alguns dos melhores elementos dos cinemas de Bava e Argento, com uma sensibilidade de luz e sombras que lembra o primeiro e um domínio de ritmo e fluidez de câmera que lembra o segundo, com um toquezinho ainda (mais distante) da demência caótica de Fulci. Certamente não há, como tenho certeza que o próprio Soavi concordaria, elogio maior que possa ser feito a um Giallo.

02. SEIS MULHERES PARA O ASSASSINO (Mario Bava, 1964)

O filme tido como inaugurador do gênero não está aqui, garanto, pelo seu valor histórico. Não, Seis Mulheres para o Assassino ocupa o segundo lugar nessa lista não pela sua importância, mas pela sua qualidade. Mario Bava, que se não for o maior diretor de horror de todos os tempos certamente está no pódio, era o mestre da luz, e esse filme é um de seus maiores espetáculos. Um filme que cada frame parece um quadro cuidadosamente pintado, cujas cores vibrantes dos sets e da fotografia são tão satisfatórias que a vontade é pausar a cena para ficar admirando e cuja iluminação é sempre espetacularmente evocativa de uma atmosfera muito bem trabalhada na mistura de um gótico (algo no qual Bava era mestre) com uma modernidade fashionista. Um colírio.

01. PRELÚDIO PARA MATAR (Dario Argento, 1975)

O domínio de Argento sobre o gênero sempre foi algo anormal. Ouso dizer, maior até que o de Bava, que foi seu criador. Prelúdio para Matar é um filme que entende que certas sensações podem apenas ser alcançadas numa combinação poderosa de imagens e sons, nesse caso a meticulosamente sobre-estilizada cenografia de Argento com as alucinantes trilhas sonoras da banda Goblin. Não basta seu apuro estético singular, Argento entende dos cacoetes e clichês com os quais trabalha a ponto de brincar com eles com a leveza de quem sabe que não precisa provar nada pra ninguém. Prelúdio para Matar é ritmo puro, é o cinema-jazz, é uma obra-prima e uma experiência cinematográfica única.


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