Pular para o conteúdo principal

Explicação do Final de Birdman



 (Contém Spoilers)                                           TEXTO DE: Matheus R. B. Hentschke 
 

Se inúmeras vezes eu julguei Birdman como pretensioso, terei de ser justo e dizer o mesmo de mim, uma vez que tentar explicar o final de uma obra aberta se encaixa perfeitamente em tal categoria. Entretanto, tentarei faze-lo apenas a título de opinião e com a finalidade de gerar discussões acerca do mesmo e não definir com exatidão o que Iñarritu pretendia com seu final. 


Na literatura, há uma categoria de histórias que se enquadram no chamado realismo fantástico, que consiste em inserir elementos surreais na realidade e torná-lo trivial, do cotidiano. Murilo Rubião e Franz Kafka são dois grandes exemplos do gênero e muitos, ao terminarem de assistir à Birdman, julgaram ser mais um caso do realismo fantástico. Em minha opinião, um ledo engano. Desde o início, Riggan Thomson se mostra desequilibrado e esquizofrênico, seja por sua ideia de acreditar que consegue voar, seja pelos seus acessos de fúria em seu camarim. Contudo, a cena final gera uma forte dúvida no espectador, que já estava convencido da insanidade do protagonista. Alejandro González Iñarritu tenta ludibriar seus espectadores que irão se perguntar após o final: "Ele era louco ou realmente tinha superpoderes?” Ficando preso em tal armadilha do diretor.

O que de fato ocorre é que quando Riggan Thomson, no ato final de sua peça, dá um tiro, em que não se vê com clareza aonde, ali ele se suicidou e não deu um tiro no nariz, como a direção induziu seus espectadores. Com sua vida nos últimos minutos, acaba por ter uma última alucinação antes da derradeira morte e a partir do momento em que o filme corta para o hospital, tudo aquilo nada mais é do que um fruto da imaginação de Thomson. Ali, ele se imagina importante, como poucas vezes fora na vida: conseguira o sucesso e o reconhecimento tão desejados em sua vida profissional, o carinho de sua mulher e filha de volta e cada vez mais perto de se tornar o Birdman, com sua fratura no nariz. Na cena final, em que sua filha olha pela janela e supostamente o vê voando, nada mais é do que uma alusão de que em vida Riggan Thomson não conseguiu ser o que queria, porém em seu último minuto de vida, assim como a personagem Macabeia de Clarice Lispector em A Hora da Estrela, conseguiu alçar o seu último e mais glorioso voo.
 


 

 

 

 
 
 

 

Comentários

  1. Na vdd não foi isso, ele morreu sim, mas quando pulou da janela, sua filha chega olha pela janela e vê seu pai morto na rua e começa a alucinar com ele voando pra escapar da realidade, se vc prestar atenção na cena pode ver que quando ela olha pra baixo, pode ouvir pessoas gritando e sirenes.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Interpretação do Filme Estrada Perdida (Lost Highway, 1997)

GUILHERME W. MACHADO Primeiramente, gostaria de deixar claro que A Estrada Perdida [1997], como muitos filmes de David Lynch, é uma obra tão rica em simbolismos e com uma narrativa tão intrincada que não é adequado afirmar tê-la compreendido por completo. Ao contrário de um deturpado senso comum, entretanto, creio que essas obras (aqui também se encaixa o mais conhecido Cidade dos Sonhos ) possuem sentido e que não são apenas plataformas nas quais o diretor simplesmente despeja simbolismos para que se conectem por conta própria no acaso da mente do espectador. Há filmes que mais claramente – ainda que não tão ao extremo quanto dito, pois não existe verdadeira gratuidade na arte – optam pela multiplicidade interpretativa, como 2001: Uma Odisseia no Espaço [1968] e Ano Passado em Marienbad [1961], por exemplo. Não acredito ser o caso dos filmes de Lynch, nos quais é possível encontrar (mediante um esforço do espectador de juntar os fragmentos disponíveis e interpretá-los) en

10 Giallos Preferidos (Especial Halloween)

GUILHERME W. MACHADO Então, pra manter a tradição do blog de lançar uma lista temática de terror a cada novo Halloween ( confira aqui a do ano passado ), fico em 2017 com o top de um dos meus subgêneros favoritos: o Giallo. Pra quem não tá familiarizado com o nome  –  e certamente muito do grande público consumidor de terror ainda é alheio à existência dessas pérolas  –  explico rapidamente no parágrafo abaixo, mas sem aprofundar muito, pois não é o propósito aqui fazer um artigo sobre o estilo. Seja para já apreciadores ou para os que nunca sequer ouviram falar, deixo o Giallo como minha recomendação para esse Halloween, frisando  –  para os que torcem o nariz  –  que essa escola de italianos serviu como referência e inspiração para muitos dos que viriam a ser os maiores diretores do terror americano, como John Carpenter, Wes Craven, Tobe Hooper, e até diretores fora do gênero, como Brian De Palma e Quentin Tarantino.