MATHEUS R.B. HENTSCHKE
Ainda que com uma trama simples, de mais uma relação entre mestre e discípulo, Whiplash acaba por se desenvolver em um enredo sólido, em que diversas subtramas, como o relacionamento amoroso de Andrew com Nicole (Melissa Benoist), sua relação com seu pai (Paul Raiser) e com sua família não são enfadonhamente exploradas, servindo eficientemente ao seu propósito e o suficiente para se compreender o afastamento pelo qual o protagonista começa a ter dessas pessoas. Sua dedicação exagerada e foco compulsivo são amplamente ilustrados pela direção, que consegue construir uma história cativante, ainda que com alguns poucos excessos, como o das inúmeras vezes em que Andrew jorra sangue pelas mãos, fato que se torna repetitivo e, por vezes, redundante.
Convergente
ao acerto do roteiro, que bem equilibra sua história principal com suas
subtramas, a direção de Damien Chazelle, também roteirista da película,
consegue tornar o filme dinâmico, se espelhando em Cisne Negro (Darren
Aronofsky, 2010), em que o balé é acessível ao espectador e envolvente, com
seus cortes rápidos e uma câmera com planos eficientes. Whiplash acaba por
andar nesse mesmo horizonte; entretanto, no caso, torna o jazz extremamente
familiar ao espectador, que aos poucos já sabe as suas músicas principais,
tocadas por Andrew e capitaneadas por Fletcher, de cor. Além disso, a montagem
que segue o ritmo dos instrumentos, principalmente a bateria de Andrew, e as
nuances das atuações tornam a película, em diversos momentos, eletrizante, como
poucos filmes de ação conseguem atingir tal patamar de euforia.
Com
certeza, as atuações de J.K. Simmons, principalmente, e de Miles Teller é que
dão forma e unidade a Whiplash que, sem elas, não teria a mesma intensidade. A
relação desenvolvida entre Fletcher e Andrew é que aumentam a tensão e a emoção
de cada cena. Fletcher é um professor que acredita que ao tentar tirar o máximo
de seus alunos conseguirá estar cumprindo de maneira satisfatória seu trabalho,
ainda que para tanto precise humilhar e pressionar a seus comandados. Tal
personagem se configura como uma forte alusão a um torturador ou, porque não, à
um ditador que ao ser interrogado do porquê de tais atitudes severas e injustas
não se mostra de maneira alguma arrependido ou abalado e consegue justificar
todos os seus atos devido a velha suma, erroneamente atribuída a Maquiavel:
"Os fins justificam os meios". Essa essência do personagem se torna
explícita na cena em que Andrew, ao encontrar Fletcher em um bar e conversar
informalmente com seu, agora, ex-professor, o ouve dizer que ele só agia de tal
forma para ver se encontrava um real talento e que duvidaria que alguém iria se
tornar maior se ele só fizesse elogios. J.K. Simmons está faturando quase todos
os prêmios de ator coadjuvante e é, certamente, o vencedor da categoria no
Oscar 2015. Nada mais justo após a sua atuação que mescla, com exímia
habilidade, humor e drama, conseguindo fazer o espectador sentir empatia por
ele, devido ao seu jeito peculiar e absurdo de agir, e ao mesmo tempo repulsa,
com seus excessos e maldades cometidos.
Andrew,
por sua vez, se mostra como um adolescente que quer ser reconhecido pelo que
faz, pelo que gosta e se para isso precisar abdicar das pessoas mais próximas a
si, ele o fará. Contudo, o que Andrew não observa é que tudo que ele faz é para
provar seu valor para os outros e ao entrar no jogo doentio promovido por
Fletcher, envolvendo total concentração e exigência humanamente inaceitáveis, o
protagonista se vê isolado e sozinho com um sonho alquebrado. Ainda assim,
Whiplash não é um filme pessimista, mas sim fidedigno à realidade, que ilustra
com sutileza o que acontece quando alguém deixa tudo de lado por um sonho, acabando
por concluir que até pode se atingir tal meta, contudo outras coisas serão
deixadas para trás e, possivelmente, sem chances de recuperação ou reparação.
Em suma,
Whiplash: Em Busca da Perfeição é um filme de poucos erros que consegue uma
merecida indicação ao Oscar de melhor filme. Sempre envolvente e com momentos
de habilidosa carga dramática, a película consegue ir em um crescente de
emoção, sem soar forçado, terminando em um altíssimo nível, com sua espetacular
cena de "batalha final" entre Fletcher e Andrew. Com certeza, um dos
melhores do ano.
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