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Kingsman: Serviço Secreto (2015)







GUILHERME W. MACHADO

Na última semana de julho de 2014, ocorreu o lançamento mundial do fenômeno popular que veio a ser Guardiões da Galáxia [James Gunn, 2014]. A grande bilheteria e popularidade alcançadas pelo filme, que nada mais é do que um exercício descompromissado de humor, desprovido de qualquer outra qualidade que não a do divertimento puro, estabeleceram a base para a semelhante aceitação buscada por Kingsman: Serviço Secreto, o novo filme de Matthew Vaughn (Kick Ass; X-Men: Primeira Classe), diretor que aceita plenamente carregar a bandeira do cinema blockbuster pipoca.

O divertimento é inevitável durante a projeção de Kingsman, que já dá suas caras na primeira cena embalada pelo eletrizante riff da música Money for Nothing, de Dire Straits. O filme não mascara suas intenções em momento algum e se vende desde sempre como uma obra que sequer se leva a sério – coisa que, nessas circunstâncias, é uma virtude ausente na maioria da produção blockbuster da atualidade. Apesar de propor uma sátira ao gênero de ação, com enfoque nos filmes de espionagem, Matthew Vaughn não deixa de explorar os absurdos permitidos pelo seu material, desafiando as leis da física constantemente ao longo do filme. Numa obra que se propõe descaradamente ao absurdo, esses excessos em nada machucam, proporcionando ainda um ou outro bom momento, como a inesperada - para dizer o mínimo - cena da igreja, que desponta como ponto alto do filme.

Os problemas ocorrem quando, numa falha tentativa de tornar o filme “menos adolescente” incutindo uma violência mais aguda que o normal nesse nicho e um conteúdo levemente mais adulto, com insinuações sexuais e afins, Vaughn perde o limite do cômico e cai – poucas vezes, é verdade – no constrangedor.
Os maneirismos comuns do gênero são habilmente revertidos em cenas engraçadas que remetem a clássicos como Matrix (na divertida cena da gravata) e toda franquia 007, que é o grande alvo satírico do filme. Há ainda, entretanto, alguns resquícios de vícios narrativos não tão bem aproveitados por Vaughn, em geral relativos ao repetitivo quadro familiar do jovem protagonista “Eggsy”, que não acrescentam muito à obra, servindo apenas como um cansativo clichê.

Em termos técnicos, o filme é muito mais competente que o normal do cinema blockbuster atual. A direção de Vaughn foge do freneticismo desproporcional que diretores como Paul Greengrass instauraram sobre o cinema de ação, e utiliza seus quadros com mais estilo, deixando para a montagem a tarefa de conferir o ritmo mais ágil que é adequado ao gênero, trabalho esse muito bem executado pela mesma – que também recusa veementemente o exagero de cortes que virou regra no cinema de ação. Ainda que seu trabalho de câmera não tenha sido nada agressivo, Vaughn acertou em manter seu quadro praticamente sempre em movimento, ainda que sutil, conferindo uma fluidez agradável à obra, mesmo nas cenas que não eram de ação.
Enfim, Kingsman adapta a simples, porém indiscutivelmente eficiente em termos de sucesso popular, fórmula de cinema da Marvel Studios, apostando pesado em cenas abundantes de ação, humor raso (em conteúdo) e contagiante, roteiro propositalmente simples seja na trama ou nos personagens, coberto ainda de uma alta dose de canastrice e efeitos especiais. Um filme que nada tem a oferecer ao espectador além de sua inegável e momentânea diversão.


  NOTA (7.0/10):

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