GUILHERME W. MACHADO
Na última semana de julho de 2014, ocorreu o lançamento
mundial do fenômeno popular que veio a ser Guardiões
da Galáxia [James Gunn, 2014]. A grande bilheteria e popularidade
alcançadas pelo filme, que nada mais é do que um exercício descompromissado de
humor, desprovido de qualquer outra qualidade que não a do divertimento puro,
estabeleceram a base para a semelhante aceitação buscada por Kingsman: Serviço Secreto, o novo filme
de Matthew Vaughn (Kick Ass; X-Men:
Primeira Classe), diretor que aceita plenamente carregar a bandeira do cinema
blockbuster pipoca.
O divertimento é inevitável durante a projeção de Kingsman, que já dá suas caras na
primeira cena embalada pelo eletrizante riff da música Money for Nothing, de Dire Straits. O filme não mascara suas intenções em momento algum e se vende
desde sempre como uma obra que sequer se leva a sério – coisa que, nessas circunstâncias,
é uma virtude ausente na maioria da produção blockbuster da atualidade. Apesar
de propor uma sátira ao gênero de ação, com enfoque nos filmes de espionagem,
Matthew Vaughn não deixa de explorar os absurdos permitidos pelo seu material,
desafiando as leis da física constantemente ao longo do filme. Numa obra que se
propõe descaradamente ao absurdo, esses excessos em nada machucam,
proporcionando ainda um ou outro bom momento, como a inesperada - para dizer o
mínimo - cena da igreja, que desponta como ponto alto do filme.
Os problemas ocorrem quando, numa falha tentativa de
tornar o filme “menos adolescente” incutindo uma violência mais aguda que o
normal nesse nicho e um conteúdo levemente mais adulto, com insinuações sexuais
e afins, Vaughn perde o limite do cômico e cai – poucas vezes, é verdade – no constrangedor.
Os maneirismos comuns do gênero são habilmente
revertidos em cenas engraçadas que remetem a clássicos como Matrix (na
divertida cena da gravata) e toda franquia 007, que é o grande alvo satírico do
filme. Há ainda, entretanto, alguns resquícios de vícios narrativos não tão bem
aproveitados por Vaughn, em geral relativos ao repetitivo quadro familiar do
jovem protagonista “Eggsy”, que não acrescentam muito à obra, servindo apenas como
um cansativo clichê.
Em termos técnicos, o filme é muito mais competente
que o normal do cinema blockbuster atual. A direção de Vaughn foge do
freneticismo desproporcional que diretores como Paul Greengrass instauraram
sobre o cinema de ação, e utiliza seus quadros com mais estilo, deixando para
a montagem a tarefa de conferir o ritmo mais ágil que é adequado ao gênero,
trabalho esse muito bem executado pela mesma – que também recusa veementemente
o exagero de cortes que virou regra no cinema de ação. Ainda que seu trabalho
de câmera não tenha sido nada agressivo, Vaughn acertou em manter seu quadro praticamente
sempre em movimento, ainda que sutil, conferindo uma fluidez agradável à obra,
mesmo nas cenas que não eram de ação.
Enfim, Kingsman
adapta a simples, porém indiscutivelmente eficiente em termos de sucesso popular,
fórmula de cinema da Marvel Studios, apostando pesado em cenas abundantes de
ação, humor raso (em conteúdo) e contagiante, roteiro propositalmente simples
seja na trama ou nos personagens, coberto ainda de uma alta dose de canastrice
e efeitos especiais. Um filme que nada tem a oferecer ao espectador além de sua
inegável e momentânea diversão.
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