(Comentários em ordem alfabética)
007 Contra Spectre [Sam Mendes, 2015] - Guilherme W. Machado
Sam Mendes segue seu trabalho de trazer um bem vindo amadurecimento à franquia, explorando questões mais intensas relativas ao universo sem ignorar suas regras (pelo contrário, o diretor mostra pleno domínio sobre o mesmo, dando-se o luxo de brincar com seus clichês). Spectre trata bem da mudança de geração, da modernidade sobrepondo as tradições; vejo, de certa forma, o pesado uso (claramente consciente) de clichês recorrentes da franquia como um último tributo de Mendes aos valores da tradição, fazendo de Spectre, em última instância, uma espécie de canto de cisne dos Bond-films tradicionais. Nesse papel, o filme se sai muito bem.
NOTA
O Clube [Pablo Larraín, 2015] - Matheus R.B. Hentschke
O Clube apresenta uma história altamente metafórica, em que um império em decadência é retratado pela imagem de algumas pessoas igualmente derrotadas. A Igreja Católica tem aqui todas as suas chagas escarnadas por meio de personagens tipo, que nem mesmo seus nomes ganham real importância, pelo fato de a obra se preocupar apenas com uma questão: mostrar a pedofilia, os crimes e a negligência em que está instituição milenar encontra-se corroída. A casa de retiro, apresentada no filme, cujos moradores são padres que cometeram graves erros, nada mais é do que uma repetitiva alegoria sobre o estado carcomido em que esse império se encontra, sendo uma alusão a Velha Igreja que ainda permanece e a chegada do novo padre, conhecido por ser um especialista em resolver crises, que mostra a faceta de uma Nova Igreja, que simula querer limpar a instituição das velhas vicissitudes, contudo só oculta e suaviza os terríveis segredos. A direção opta por um contraste interessante, ainda que usada em excesso, na fotografia que ora está opaca ao mostrar os padres e freira da Velha Igreja, ora está nítida ao mostrar o padre da Nova Igreja. Tal contraste pode ser observado principalmente nas cenas de inquérito entre esses personagens. Entretanto, é uma pena constatar que O Clube não consegue desenvolver uma história propriamente dita e fica presa em uma metáfora circular que aliada a uma direção dura e fria acaba por se tornar maçante e a sensação que permanece é a de que a obra tinha tanta vontade de criticar, de polemizar; todavia, perdeu sua essência como filme e ficará apenas como um grito de protesto distante que cairá no esquecimento.
NOTA
Escravas do Medo [Blake Edwards, 1962] - Guilherme W. Machado
O domínio que Edwards tem do espaço, a forma como aproveita seus cenários e movimenta sua câmera por entre os mesmos, é notável; uma marca em sua carreira que se mostrou ainda mais evidente em algumas de suas comédias, como Um Tiro no Escuro [1964] e, principalmente, Um Convidado Bem Trapalhão [1968]. Pena que a trama, que oferece tantos potenciais interessantíssimos no seu notável primeiro ato, se faz tão simples e repetitiva no decorrer do filme.
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