GUILHERME W. MACHADO
How terrible is wisdom when it brings no profit to the wise, Johnny?É curioso como esse interessante exemplar de filme de terror satânico tenha passado tão despercebido ao longo dos anos. Se olharmos bem, veremos que o filme conta com a direção de Alan Parker, um diretor bem conhecido, ainda que não tão reconhecido; tinha o elenco encabeçado por Mickey Rourke, o jovem ator “do momento” na época; e contava com uma participação especial de ninguém menos que Robert De Niro. Ao meu ver, Alan Parker assinou embaixo do “esquecimento” de seu filme ao abordar tantos temas polêmicos e pesados na obra, a tornando totalmente inviável comercialmente. Tem filmes, entretanto, que se dão bem justamente por ficarem nas sombras, com seus fãs clubes seletos, mas fervorosos. É o caso de Coração Satânico, que tem seu público alvo devoto o suficiente para render-lhe notas altas em sites de opinião pública, mas que seria alvo de muitas críticas e talvez até tivesse sua imagem enfraquecida caso tivesse sido mais popular.
Fato é que esse peculiar trabalho de Alan Parker, quiçá seu melhor, tem suas qualidades marcantes, mas no conjunto geral não tem a força necessária para se firmar como um clássico do gênero. A atmosfera construída por Parker, numa espécie de mistura entre O Bebê de Rosemary (1968) com Inverno de Sangue em Veneza (1973), é muito eficiente e dá o tom certo para o desenrolar da complicada trama. O maior pecado foi, após passado cerca de uma hora de filme, deixar essa atmosfera em segundo plano e passar para uma investigação mais didática e informativa, desenterrando toneladas de dados sobre a vida de Johnny Favorite que pouco interessam ao espectador e apenas completam a trama demasiadamente, e desnecessariamente, complexa.
- Are you an atheist?O terror, em geral, tem uma premissa simples, o que nem sempre é verdade em relação ao suspense. Essa é inegavelmente uma obra de terror, embora envolva suspense no processo. Os filmes desse gênero podem ser o quão complicado desejarem durante o desenrolar de suas tramas, mas o que todos têm em comum é que no final, mesmo para os espectadores menos atentos, eles são total e claramente compreensíveis. Salvo raras exceções, o terror não acaba de forma confusa ou pouco clara, isso é um privilégio do suspense. Alan Parker, dessa forma, debilita sua atmosfera ao complicar demais sua trama, pois não tem como prender, ao mesmo tempo, o espectador na atmosfera e ainda desafiá-lo intelectualmente a juntar as peças da história. Quando essas duas coisas acontecem simultaneamente, elas tendem a se anular, ou no mínimo, a se enfraquecer. Vale dizer, todavia, que por mais confusa e complexa que tenha sido a história, ela não foi mal feita; seus eventos se encaixam e o roteiro não deixa furos, apenas requer uma atenção maior do espectador, atenção essa que deveria ser dirigida para o terror/suspense em si.
- Yeah, I'm from Brooklyn.
Antes de encerrar esse texto, acho imprescindível tecer um comentário sobre a participação de Robert De Niro no filme. Ainda que curtas, as aparições deram um tom perfeito para a obra, contribuindo com inteligentes diálogos de duplo sentido, que dão várias pistas sobre a revelação final do filme - de certa forma previsível - de forma sutil. O ator estava tão consciente no delicado (pra dizer o mínimo) papel, que o diretor Alan Parker afirmou ter deixado De Niro se autodirigir em cena. Simplesmente.
You're crazy. I know who I am. You're trying to frame me. You're trying to frame me. Cyphre, I know who I am. You murdered them people. I never killed nobody. I didn't kill Fowler, and... and I didn't kill Toots, and I didn't kill Margaret, and I didn't kill Krusemark, I didn't kill no-one!
NOTA (3.5/5.0)
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