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Locke (2014)


GUILHERME W. MACHADO

Locke prova como o cinema pode ser uma arte simples e ainda envolvente. Com um ótimo roteiro e um grande ator, sem nada comprometedor nos outros setores, Steven Knight (Redenção) entrega uma obra envolvente e de resultado positivo. Os simples fatos da ambientação do filme ser inteiramente num carro, se passar em tempo real, e de apenas um ator aparecer, realmente, durante toda sua projeção, tornam Locke um projeto arriscado, com tudo para ser enfadonho, o que só faz enaltecer ainda mais a competência dos dois trunfos da obra: Tom Hardy (Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge) e o roteiro de Knight.
Ivan Locke é um homem com uma vida segura e bem estabelecida. Sua personalidade auto-controladora e meticulosa o caracterizam como o típico “escoteiro”, agravando ainda mais o único erro que cometeu em sua vida. Durante esses 85 minutos, Locke verá sua vida se desintegrar progressivamente enquanto ele dirige uma estrada (mais metafórica do que qualquer outra coisa) rumo aos seus fantasmas mais profundos. A construção desse personagem é genial, uma vez que não são necessários flashbacks, narrações ou qualquer recurso falho para explicá-lo. O elaborado texto e a grande atuação de Hardy nos fazem compreender perfeitamente esse homem e sua situação apenas através de suas conversas telefônicas com as seis pessoas mais em evidência na sua vida nesse momento.



Locke é um homem muito bem-sucedido na vida, mas que ainda segue atormentado pelo “fantasma” de seu pai (que ele mal conheceu), um homem sobre o qual ele se dedicou a ser exatamente o oposto. Dessa forma é fácil compreender a tendência de “bom samaritano” de Locke, assim como sua personalidade controladora e prática, sempre racional sem se permitir agir pelo calor da emoção. A interessante jogada de Knight aqui foi a de mostrar que por mais responsável e correto que seja um homem, basta um erro para derrubá-lo. Na verdade, quanto mais correto ele for, mais esse único erro o prejudicará. As segundas chances não são dadas àqueles que delas nunca precisam.

A forma como o personagem de Locke e suas relações vão se desdobrando no filme apenas através de ligações telefônicas fazem com que o filme mantenha o ritmo e não perca o interesse. O compromisso excessivo da direção de Knight com essa proposta radical de ambiente único criam certas limitações que impedem a obra de alçar voos mais altos. Os planos do diretor se tornam bastante repetitivos e monótonos, focando demais no carro em si e no protagonista, deixando de aproveitar, por exemplo, a estrada e as possibilidades que essa poderia proporcionar. A falta de calma no trato das imagens, sempre rápidas ou em movimento, seja através da direção ou da montagem, que frequentemente utiliza o recurso da fusão (sobreposição de imagens), diminuem um pouco a experiência, numa preocupação desproporcional de criar dinamismo. Em alguns momentos mais dramáticos, caberia um pouco menos de pressa.
De qualquer forma, Locke é um filme preciso e contundente, ainda que careça de qualidades mais marcantes da própria linguagem cinematográfica. A elevada qualidade do texto, assim como a ótima construção do seu interessante protagonista, tira a obra do lugar-comum onde ela estaria dependendo da direção ou do resto da parte técnica. Tom Hardy continua mostrando sinais de evolução, tendo aqui aquela que é, possivelmente, sua melhor atuação, e uma das melhores do ano.

  NOTA (7.5/10):

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