GUILHERME W. MACHADO
Locke prova como o cinema pode ser uma arte simples e ainda
envolvente. Com um ótimo roteiro e um grande ator, sem nada comprometedor nos
outros setores, Steven Knight (Redenção)
entrega uma obra envolvente e de resultado positivo. Os simples fatos da ambientação
do filme ser inteiramente num carro, se passar em tempo real, e de apenas um
ator aparecer, realmente, durante toda sua projeção, tornam Locke um projeto arriscado, com tudo
para ser enfadonho, o que só faz enaltecer ainda mais a competência dos dois
trunfos da obra: Tom Hardy (Batman: O
Cavaleiro das Trevas Ressurge) e o roteiro de Knight.
Locke é um homem muito bem-sucedido na vida, mas que
ainda segue atormentado pelo “fantasma” de seu pai (que ele mal conheceu), um homem sobre o qual ele se dedicou a ser exatamente o
oposto. Dessa forma é fácil compreender a tendência de “bom samaritano” de
Locke, assim como sua personalidade controladora e prática, sempre racional sem
se permitir agir pelo calor da emoção. A interessante jogada de Knight aqui foi
a de mostrar que por mais responsável e correto que seja um homem, basta um
erro para derrubá-lo. Na verdade, quanto mais correto ele for, mais esse
único erro o prejudicará. As segundas chances não são dadas àqueles que delas
nunca precisam.
A forma como o personagem de Locke e suas relações vão
se desdobrando no filme apenas através de ligações telefônicas fazem com que o
filme mantenha o ritmo e não perca o interesse. O compromisso excessivo da
direção de Knight com essa proposta radical de ambiente único criam certas
limitações que impedem a obra de alçar voos mais altos. Os planos do diretor se
tornam bastante repetitivos e monótonos, focando demais no carro em si e no
protagonista, deixando de aproveitar, por exemplo, a estrada e as possibilidades
que essa poderia proporcionar. A falta de calma no trato das imagens, sempre
rápidas ou em movimento, seja através da direção ou da montagem, que
frequentemente utiliza o recurso da fusão (sobreposição de imagens), diminuem
um pouco a experiência, numa preocupação desproporcional de criar dinamismo. Em
alguns momentos mais dramáticos, caberia um pouco menos de pressa.
De qualquer forma, Locke
é um filme preciso e contundente, ainda que careça de qualidades mais marcantes
da própria linguagem cinematográfica. A elevada qualidade do texto, assim como
a ótima construção do seu interessante protagonista, tira a obra do lugar-comum
onde ela estaria dependendo da direção ou do resto da parte técnica. Tom Hardy
continua mostrando sinais de evolução, tendo aqui aquela que é, possivelmente,
sua melhor atuação, e uma das melhores do ano.
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