TEXTO DE: Guilherme W. Machado
Aproximando-se do resultado do Oscar 2015, um dos mais incertos dos últimos anos, lanço aqui um panorama geral que envolve os 8 indicados à Melhor Filme, arranjando-os em ordem de preferência. A proposta é tecer um breve comentário, acompanhado do respectivo trailer, sobre os 8 principais filmes da premiação - ainda que não sejam, indubitavelmente, os 8 melhores -, apresentando uma breve visão sobre cada um, assim como um quadro comparativo entre os mesmos, uma vez que estão listados em ordem de preferência e com notas atribuídas.
OBS: Clique nos nomes dos filmes para ler nossas respectivas críticas completas.
8. A Teoria de Tudo
“O mais enfadonho e gratuito filme da seleção, junto de O Jogo da Imitação. James Marsh faz um filme biográfico que em nada acrescenta em termos cinematográficos ou em conteúdo. Um caso no qual o embrulho vale mais que o produto, ainda que o filme tenha alguns pontos que o sustentam. A dependência da qualidade dos atores, que têm boas performances, é constante, sendo o pilar que apoia a obra. A montagem, a fotografia, a reconstrução da época – através do design de produção – e a trilha sonora (a parte técnica em geral) são competentes, mas nada muito inspirador nem merecedor de muitos destaques. A Teoria de Tudo não é necessariamente ruim, mas totalmente esquecível. Não entendo por que as cinebiografias inglesas continuam sendo tão populares na academia ao longo de todos esses últimos anos.” NOTA: 6.5
“Apesar de todo esforço contrário, O Jogo da Imitação é uma obra simplista, da qual pouco se aproveita. O excesso de enfeites e as didáticas explicações mostram um filme artificial e inseguro. Por mais que Tyldum encontre um ponto de apoio no excelente Benedict Cumberbatch, a superficialidade do roteiro e a opacidade da direção fazem de O Jogo da Imitação um filme dispensável com uma roupagem que clama por premiações. O intrigante personagem Alan Turing e a premissa da história real mantém o espectador assistindo, sendo, infelizmente, soterrados pelo pragmatismo com o qual a obra foi executada. As indicações de Tyldum e Keira permanecem um grande misterio, assim como a maioria das outras recebidas pela obra. Um filme de aparências.” NOTA: 6.5
6. Selma
“Hábil mistura, feita por DuVernay, de momentos chocantes/revoltantes com outros tocantes/emocionantes para criar um dos mais eficientes filmes anti-racismo dos últimos anos. Creio, todavia, que o filme focou demais nos fatos históricos, quando podia puxar mais para a reflexão moral, o que o tornaria mais abrangente (sobre o racismo em geral) e não tão focado nesse tempo-espaço específico. Alguns momentos se destacam bastante, nos quais méritos devem ser dados a DuVernay pela boa direção, mas o filme carece de algum fator que o eleve acima do padrão. De qualquer forma, cumpre o que propõe: um retrato histórico sobre essa luta pelo direito de voto dos cidadãos negros neste estado do sul dos Estados Unidos.” NOTA: 7.0
“Eastwood apresenta uma nova visão do herói americano, revelando suas inseguranças e perturbações, utilizando a guerra do Iraque como um mero pano de fundo para seu estudo de personagem. O roteiro, muito bem construído, compõe um protagonista consistente e compreensível, mesmo dentro de sua simplista visão de mundo, que fez com que alguns a confundissem como sendo a visão da obra em si. A boa condução e o envolvente ritmo prendem a atenção durante toda projeção, ainda que coíbam o teor dramático da obra; Sniper Americano é, portanto, extremamente eficiente nas cenas de guerra e no desenvolvimento de seu protagonista, ainda que peque um pouco nas cenas familiares. Incomum na carreira de Eastwood, o elenco aqui não é destaque, com uma nada mais do que comum atuação de Cooper e uma muito boa atuação de Sienna Miller (com pouco tempo em cena). Polêmicas à parte, Sniper Americano é uma das mais interessantes e competentes realizações da premiação.” NOTA: 8.0
4. Whiplash
“É difícil não associar boa parte do entusiasmo sentido após assistir Whiplash à J.K Simmons. O ator, de fato, dá o tom perfeito ao filme, variando do extremamente engraçado ao irritante em questão de segundos, sem nunca deixar de ser marcante. Whiplash conta, todavia, com grandes méritos que fazem dele um ótimo filme: a direção precisa, ainda que simples, de Chazelle; a maravilhosa montagem que aproveita com extrema habilidade aquela que talvez seja a mais marcante característica da bateria (e da música em geral), o ritmo; o roteiro, que muito tem a dizer sobre arrogância e ambição, pincelando ainda temas interessantes sobre relações familiares; e, por fim, a envolvente ambientação de uma Nova York regida pelo jazz.” NOTA: 8.0
3. Boyhood
“Os méritos de Boyhood vão muito além do fato – incrível por si só – de sua filmagem ter sido feita ao longo de 12 anos. Richard Linklater cria uma obra ímpar, de um realismo envolvente, sobre a juventude dessa era (em geral, e não limitada aos Estados Unidos, como alguns apontam), tendo ainda como pano de fundo 12 anos de história bem aproveitados. O roteiro brilhante retoma temas chave da carreira do diretor, como a passagem do tempo e seu efeito nas pessoas, e adentra profundamente, e da forma mais real e sutil possível, na estrutura familiar moderna, sem nunca apelar para o novelão. A direção de Linklater somada à montagem de Adair entregam uma obra leve que não encontra problemas em cativar seu espectador, seus méritos aqui são maiores do que aparentam sob a máscara de simplicidade vestida pela obra. Boyhood é uma verdadeira obra-prima que ultrapassará eras, sem nunca perder a simplicidade que lhe faz tão cativante.” NOTA: 8.5
2. Birdman
“A
ambição de Iñarritu resulta num projeto que esbanja criatividade. Birdman é um
filme de muitas qualidades, técnicas e conceituais, que explora até os níveis
mais profundos da metalinguagem e converte todo seu esplendor técnico naquele
que é, provavelmente, o filme mais intenso do ano. Essa forte experiência
cinematográfica abusa da fluidez de sua narrativa e estabelece um ritmo
alucinante enquanto dispara críticas aos mais diversos setores da sétima arte e
até mesmo aos críticos. Iñarritu extrai o máximo de todos seus recursos, desde
a genial escalação de atores – não apenas por seus talentos, mas pelo que
representam – até o abuso do brilhantismo de seu diretor de fotografia
(Emmanuel Lubezki). Birdman é um dos filmes da década.” NOTA: 9.0
“Anderson,
no auge de sua estética, constrói aquela que talvez seja sua mais envolvente e
divertida fábula para pintar um retrato histórico desta conturbada fase
europeia do início do século XX. A narrativa flui de forma perfeita, numa
combinação de sinergia inacreditável entre montagem, trilha sonora, direção de
arte, fotografia e direção de elenco, tudo comandado e filmado por um
afiadíssimo Wes Anderson que sabe exatamente aonde quer chegar. O Grande Hotel Budapeste é o filme mais
completo do ano, eficiente em tudo o que se propõe, da comédia ao tiroteio, da
tragédia ao riso, do romance à morte, uma obra impecável.” NOTA: 9.0
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