GUILHERME W. MACHADO
Alguns meses atrás, Birdman (clique para ler a crítica) – filme vencedor do Oscar de 2015 – estreou nos cinemas
brasileiros, causando bastante discórdia tanto na crítica (havendo divergência
inclusive aqui no blog) quanto no público. Semana passada, o novo – e, espero eu, o último – filme de Barry Levinson, O
Último Ato, mostra, a partir de um ponto de partida de trama extremamente
semelhante, o quão ruim Birdman
poderia ter sido nas mãos de um artista menor que Iñarritu (que, convenhamos, não é nenhum gênio).
A verdade é que o novo filme do diretor de Rain Man [1988] empilha problemas nas suas mais diversas áreas. A começar pela direção, Levinson tenta simular um estilo de filmagem à lá Dogma 95 (estilo protagonizado por Lars Von Trier e Thomas Vintberg), com câmera na mão e poucos cortes, numa tentativa de conferir mais realismo às cenas. O resultado é desastroso: os planos são cansativos, a câmera se perde com frequência (enquadrando objetos inúteis e fazendo movimentos gratuitos e estranhos), e a proposta de realismo cai por água a baixo com a direção de fotografia amadora, que insiste em colocar verdadeiros holofotes de luz sobre o personagem (mesmo a céu aberto), numa tentativa infeliz – creio eu que não tenha sido gratuito, talvez esteja supervalorizando o esforço dessa área – de simular uma iluminação de teatro sobre o ator, como se ele sempre estivesse no palco.
Já sobre o roteiro chega a ser difícil exemplificar
sua confusão e infantilidade, mas tentarei. Os diálogos são dignos de crianças
da 3ª série, tentando forçar uma comicidade que sempre cai no desconforto
(nosso e dos atores). A história anda em círculos sem nunca encontrar um foco,
passando de forma desesperada por gêneros como suspense (o que foram aquelas
ligações noturnas?), comédia (piadas que se repetem incansavelmente, como a da
mulher que quer matar o marido, tentando forçar o espectador a crer que são
engraçadas), drama (mesmo quase sem elementos dramáticos construídos pela
trama), deixando sempre o espectador em dúvida sobre onde toda aquela confusão
vai chegar, mas não de forma positiva ou intrigante. Fora o fato de incorrer freneticamente
em clichês durante toda narrativa, sem saber usá-los para enriquecê-la.
A maior decepção, entretanto, veio das atuações. Por
mais que andasse sumido, Al Pacino sempre gerou imensas expectativas. Seu
trabalho não chegou a ser incompetente, mas creio que era impossível tirar algo
bom desse material (roteiro e direção fraquíssimos). O ator que sempre foi
marcado pelo sua indiscutível presença em tela parecia o filme inteiro perdido,
não sabendo com que tom abordar o personagem – até porque o próprio filme nunca
soube que tom iria tomar – tendo apenas um ou outro momento nada mais do que
decente. É uma pena. Já a grande Diane Wiest e a promissora Greta Gerwig também
não ficam muito longe disso, a primeira com espaço limitadíssimo e num papel
infeliz (sendo que ela ainda conseguiu o milagre de fazer uma boa cena, em
termos de atuação), e a segunda num papel tão bagunçado e até caricato que a
impedia de fazer qualquer outra coisa que não o óbvio.
Enfim, poderia continuar escrevendo, mas não vejo
motivos para seguir com esse texto, uma vez que o ponto já foi passado.
Finalizo ainda apontando problemas na montagem (truncada em algumas transições,
causando um desconforto que não é útil à narrativa) e na trilha sonora,
completamente deslocada, em alternâncias quase patéticas de abordagem (aqueles
toques de celular, que eram repetidos com uma frequência tal que viravam trilha e que beiravam ao insuportável). O Último Ato
é um filme interminável, sem um acerto sequer. Espero que tenha sido,
realmente, o último ato.
Comentários
Postar um comentário