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O Último Ato (Barry Levingson, 2014)

GUILHERME W. MACHADO

Alguns meses atrás, Birdman (clique para ler a crítica) – filme vencedor do Oscar de 2015 – estreou nos cinemas brasileiros, causando bastante discórdia tanto na crítica (havendo divergência inclusive aqui no blog) quanto no público. Semana passada, o novo – e, espero eu, o último – filme de Barry Levinson, O Último Ato, mostra, a partir de um ponto de partida de trama extremamente semelhante, o quão ruim Birdman poderia ter sido nas mãos de um artista menor que Iñarritu (que, convenhamos, não é nenhum gênio).

A verdade é que o novo filme do diretor de Rain Man [1988] empilha problemas nas suas mais diversas áreas. A começar pela direção, Levinson tenta simular um estilo de filmagem à lá Dogma 95 (estilo protagonizado por Lars Von Trier e Thomas Vintberg), com câmera na mão e poucos cortes, numa tentativa de conferir mais realismo às cenas. O resultado é desastroso: os planos são cansativos, a câmera se perde com frequência (enquadrando objetos inúteis e fazendo movimentos gratuitos e estranhos), e a proposta de realismo cai por água a baixo com a direção de fotografia amadora, que insiste em colocar verdadeiros holofotes de luz sobre o personagem (mesmo a céu aberto), numa tentativa infeliz – creio eu que não tenha sido gratuito, talvez esteja supervalorizando o esforço dessa área – de simular uma iluminação de teatro sobre o ator, como se ele sempre estivesse no palco.

Já sobre o roteiro chega a ser difícil exemplificar sua confusão e infantilidade, mas tentarei. Os diálogos são dignos de crianças da 3ª série, tentando forçar uma comicidade que sempre cai no desconforto (nosso e dos atores). A história anda em círculos sem nunca encontrar um foco, passando de forma desesperada por gêneros como suspense (o que foram aquelas ligações noturnas?), comédia (piadas que se repetem incansavelmente, como a da mulher que quer matar o marido, tentando forçar o espectador a crer que são engraçadas), drama (mesmo quase sem elementos dramáticos construídos pela trama), deixando sempre o espectador em dúvida sobre onde toda aquela confusão vai chegar, mas não de forma positiva ou intrigante. Fora o fato de incorrer freneticamente em clichês durante toda narrativa, sem saber usá-los para enriquecê-la.
 A maior decepção, entretanto, veio das atuações. Por mais que andasse sumido, Al Pacino sempre gerou imensas expectativas. Seu trabalho não chegou a ser incompetente, mas creio que era impossível tirar algo bom desse material (roteiro e direção fraquíssimos). O ator que sempre foi marcado pelo sua indiscutível presença em tela parecia o filme inteiro perdido, não sabendo com que tom abordar o personagem – até porque o próprio filme nunca soube que tom iria tomar – tendo apenas um ou outro momento nada mais do que decente. É uma pena. Já a grande Diane Wiest e a promissora Greta Gerwig também não ficam muito longe disso, a primeira com espaço limitadíssimo e num papel infeliz (sendo que ela ainda conseguiu o milagre de fazer uma boa cena, em termos de atuação), e a segunda num papel tão bagunçado e até caricato que a impedia de fazer qualquer outra coisa que não o óbvio.

Enfim, poderia continuar escrevendo, mas não vejo motivos para seguir com esse texto, uma vez que o ponto já foi passado. Finalizo ainda apontando problemas na montagem (truncada em algumas transições, causando um desconforto que não é útil à narrativa) e na trilha sonora, completamente deslocada, em alternâncias quase patéticas de abordagem (aqueles toques de celular, que eram repetidos com uma frequência tal que viravam trilha e que beiravam ao insuportável). O Último Ato é um filme interminável, sem um acerto sequer. Espero que tenha sido, realmente, o último ato.


NOTA (1/5)

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