GUILHERME W. MACHADO
Aproveitando a data, ainda que ela não seja tão emblemática aqui no Brasil, para lançar uma lista temática. Que fique bem claro que essa não é minha lista de filmes de terror preferidos (se for o caso, me disponho a lançá-la aqui no blog no futuro), apenas algumas sugestões de filmes que considero bem interessantes dentro do gênero e que acho bem adequados para o clima da data, apesar de não serem necessariamente "filmes de halloween" (filmes cujo enredo se passa nessa ocasião).
Filmes como O Bebê de Rosemary [1968], O Iluminado [1980], Desafio do Além [1963], estão entre os exemplos de excelentes obras que ficaram fora da lista, não por questão de qualidade, mas por serem justamente obras-primas que extrapolam o gênero, são incomuns dentro do mesmo e dificilmente tem o medo como elemento central. É difícil colocar o critério dessa seleção em palavras sem parecer uma forma desmerecimento dos filmes escolhidos - o que não é o caso, pois gosto muito de todos esses -, apenas me arrisco a dizer, então, que busquei filmes de terror "mais diretos", mais tipicamente inseridos dentro de suas modalidades.
OBS: Lista em ordem alfabética
Banho de Sangue [Mario Bava, 1971]
O filme que deu influenciou o que viria a ser o famoso slasher americano é também uma verdadeira obra-prima dentro do gênero. Os elementos que seriam vistos posteriormente em franquias como Sexta-Feira 13 [1980] e Halloween [1978] já estão presentes aqui, mas potencializados pelo fenomenal senso estético de Bava. O ritmo é alucinante, e cada uma das mortes tem um cuidado especial, tornando o filme uma experiência marcante.
A Bruxa de Blair [Daniel Myrick, Eduardo Sánchez, 1999]
Um dos maiores sucessos populares de terror da história, A Bruxa de Blair protagonizou uma jogada de marketing genial dentro do gênero, abrindo porta para muitos seguidores (a maioria de qualidade duvidosa, diga-se de passagem), como Atividade Paranormal [2007]. Fora toda preparação midiática que o envolve, A Bruxa de Blair é um grande filme de terror que explora inteligentemente o potencial do oculto, do desconhecido, além de converter toda sua escassez de recursos de produção em elemento positivo do filme. Filme de ninar para alguns, absurdamente assustador para outros, é um filme de extremos que vale a pena ser conferido.
Coração Satânico [Alan Parker, 1987]
Provavelmente o filme mais diferenciado dentro da lista. A incursão de Alan Parker no terror satânico é um trabalho atmosférico sensacional dotado de uma estética hipnotizante. Pouco conhecido em geral, mesmo com a presença de estrelas como Mickey Rourke e Robert De Niro (numa participação genial), mas possui uma legião de fãs assíduos. Um filme denso que permanece na mente do espectador após a sessão.
O Despertar dos Mortos Vivos [George Romero, 1978]
Menos clássico do que A Noite dos Mortos Vivos [1968], do mesmo diretor, essa obra de Romero é uma versão mais sólida do plot tradicional de filmes de zumbi. A produção continua contando com poucos recursos, mas é menos primária do que a do clássico anteriormente referido. Ambos filmes são muito bons e possuem suas qualidades, acho que no fim das contas o motivo da minha escolha por esse aqui é bem simples, para não dizer banal: zumbis de verdade, finalmente.
Halloween [John Carpenter, 1978]
"O" slasher, filme definitivo desse sub-gênero. É chover no molhado, eu sei, mas não podia deixar de figurar. Altamente influenciado pelo trabalho de câmera do mestre Dario Argento, John Carpenter, possivelmente o maior cineasta de terror americano, traduz os dogmas do terror italiano, protagonizado por mestres como Bava, Argento e Fulci, para a realidade americana de produção de cinema. Halloween sobrevive ao tempo de forma impressionante, mantendo-se ainda extremamente tenso e envolvente. Basta ouvir, nos primeiros momentos do filme, a fenomenal trilha sonora para já virar fã declarado da obra.
A Máscara Mortal [Roger Corman, 1964]
Desconhecido do público moderno, à exceção de cinéfilos mais dedicados, A Máscara Mortal une dois mestres do gênero, ainda que de diferentes áreas: Roger Corman e Edgar Allan Poe. É um filme lindíssimo visualmente, repleto de atmosfera, com uma direção inspirada de Corman, que foi o guru do cinema B americano, e provavelmente a melhor adaptação de uma obra do mestre Poe para o cinema. Como se não bastasse, tem todo aquele charme do cinema de terror clássico.
A Morte do Demônio [Sam Raimi, 1981]
Visceral, incômodo, altamente vigoroso. O primeiro filme importante de Sam Raimi, amplamente conhecido anos depois pelos primeiros filmes do Homem-Aranha, é uma peça rara do terror. Esbanja criatividade na sua direção, que abusa de ângulos de câmera incomuns para conferir uma atmosfera única e altamente envolvente. O show de burrices dos personagens e a produção que vai aquém do precário incomodam, mas por outro lado chegam a torná-lo ainda mais enervante. Verdadeiramente assustador e atmosférico, apesar dos deslizes da reta final, mesmo nos dias atuais.
Pânico [Wes Craven, 1996]
Craven, com todo domínio que já tinha sobre o gênero (dentro do qual construiu sua célebre carreira), faz um trabalho espetacular ao questionar os estereótipos do terror slasher nesse grande filme metalinguístico. Pânico brinca com nossos conhecimentos sobre os arquétipos do terror, reciclando-os em algo completamente novo, dotado de um frescor raro no gênero. Os toques da alivio cômico em nada atrapalham o terror, que alimenta-se de personagens emblemáticos e de uma das mais surpreendentes tramas whodunit (quem é o culpado?) que já vi.
O Segredo da Cabana [Drew Goddard, 2012]
Fiz questão de pegar um exemplo mais atual, ainda que não goste muito dos rumos que as produções de terror vêm tomando nos últimos anos. Admito que fiquei entre esse e Invocação do Mal [2013], ainda que tenha me decepcionado com o terceiro ato dos dois. Optei pelo filme de Drew Goddard por sair da zona de conforto e fazer com o seu sub-gênero de terror algo parecido (ainda que em menor escala de qualidade) com o que Pânico [1996] fez com o slasher. De qualquer forma, é um filme bem acima da média dentro do gênero, verdadeiramente original, mesmo que se extrapole dentro de sua própria criatividade, e que consegue assustar sem apelar para o ridículo, como o fazem muitos filmes atuais de terror.
Tenebre [Dario Argento, 1982]
Lógico que não poderia faltar Argento. Optei por Tenebre dentro de sua rica filmografia por achá-lo um de seus filmes mais acessíveis dentro do Brasil, junto do grande Suspíria [1977]. Tenebre reúne tudo que pode haver de melhor num terror de serial killer: muita violência, muito sangue, mortes épicas, uma trilha sonora mirabolante, um final muito surpreendente e uma movimentação de câmera sensacional. De quebra Argento ainda adiciona um interessante jogo de metalinguagem e permeia todo filme com suas marcas e obsessões, que vão desde a voz do assassino no telefone até os flashs atmosféricos e perturbadores do mesmo e/ou de seu passado. Ah, e claro, sua lendária câmera subjetiva da visão do assassino.
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