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Labirinto de Mentiras (Giulio Ricciarelli, 2014)


GUILHERME W. MACHADO

A época do Oscar vai chegando e junto dela os filmes caça-prêmios, que costumam estrear no Brasil entre os meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Com isso vemos filmes como Labirinto de Mentiras, representante alemão que entrou na pré-lista de 9 filmes estrangeiros da academia: mais um filme alemão sobre o holocausto. Ok, Labirinto de Mentiras até tenta explorar um lado diferente da questão – a memória do povo alemão sobre seu passado sombrio quase duas décadas depois –, mas não consegue se desvencilhar dos vícios narrativos de filmes clamorosamente feitos sob uma fórmula de filme-de-prêmiação, como o britânico O Jogo da Imitação [2014].

O enredo gira em torno de um jovem promotor, Johann Radmann, um cdf – como o roteiro faz tanta questão de enfatizar no didático início – que, apesar de todas contraindicações e descaso de seus superiores, assume o caso de investigar os crimes cometidos no campo de concentração de Auschwitz e processar os responsáveis (todos oficiais que lá estiveram). No caminho ele depara-se constantemente com a realidade de que seu país não sabe o que realmente aconteceu na guerra, na ilusão de que os soldados nazistas estavam “apenas fazendo seus trabalhos” e de que “os campos alemães eram como os franceses ou ingleses”.

O diretor iniciante Giulio Ricciarelli parece bem satisfeito em simplesmente fazer mais um drama histórico baseado em fatos reais (ticket direto para o Oscar). Labirinto de Mentiras é um filme meramente histórico – espero, pelo menos, que seja acurado nesse quesito –, não acrescido em nada pelos recursos oferecidos pelo cinema. Pelo contrário, sua narrativa é aborrecida, didática e sempre previsível. Ricciarelli tenta conferir seriedade com seus enquadramentos retos e de simétricos, mas não há verdadeiro propósito narrativo na sua direção, que não alcança nem uma carga emocional mais envolvente, como faria um Spielberg da vida, nem o rigorismo técnico de um Haneke ou Tarr.

O ator protagonista, Alexander Fehling, já conhecido de uma ponta em Bastardos Inglórios [2009], dedica-se na sua interpretação. Seu trabalho é bom, apenas. O problema é que seu personagem é tão raso e arquetípico que não há muito que o ator poderia ter feito a mais. O mesmo vale para o resto do elenco: não há nenhuma falha de atuação entre os personagens principais, todos trabalhos são razoáveis; engessados, porém, pelo pragmatismo, simplismo até, do roteiro na construção destes indivíduos.
A única relevância de Labirinto de Mentiras vem justamente do evento histórico sobre o qual trata. É importante sim, não apenas para a Alemanha, mas para todos povos, encarar esse passado vergonhoso, assim como 12 Anos de Escravidão  [2013] mostrou como ainda é importante  olhar para trás na questão da escravidão – a semelhança entre as duas obras, entretanto, fica só nisso. A denúncia histórica, mesmo que redundante perante aos outros filmes que já a fizeram de forma mais contundente, dá algum propósito ao filme de Ricciarelli, mas, ao contrário do que alguns entusiastas de “filmes reais” pensam, só isso não é o suficiente.


NOTA (2/5)

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