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Star Wars V - O Império Contra-Ataca (1980)





MATHEUS R. B. HENTSCHKE

Star Wars ultrapassou quase todos os limites possíveis na sétima arte. Mais do que ser uma série de filmes bem-sucedidos e ter realizado enormes contribuições em termos de efeitos visuais para o cinema, essa saga se tornou uma espécie de religião entre uma sólida e fiel base de fãs ao redor do globo, sendo quase uma espécie de patrimônio cultural histórico obrigatório. Entretanto, essa space opera só viria a se tornar o fenômeno que é, com as ideias que George Lucas teve para Star Wars V - O Império Contra-Ataca, visto que conceitos como o de Star Wars ganhar a sua forma episódica e de Darth Vader (David Prowse) ser o pai de Luke Skywalker (Mark Hammil) só se deram na criação desse filme.

O Império Contra-Ataca mostra as consequências da Batalha de Yavin, em que os Rebeldes conseguiram sua primeira e expressiva vitória contra o Império Galáctico, com a destruição da máquina de guerra imperial- a Estrela da Morte- pelo jovem Luke Skywalker. A história, que se passa 3 anos após esses eventos ocorridos em Star Wars IV - Uma Nova Eperança, apresenta o Império, por meio de Lorde Vader e seus generais, apertando o cerco em cima dos Rebeldes, que, por sua vez, têm de se organizar e manter a chama da revolução acesa. Contudo, muito mais do que uma evolução narrativa em relação a Uma Nova Esperança, que tinha um tom leve e despretensioso, o Episódio V consegue levar essa saga épica ao seu apogeu, em que personagens com potencial alcançam seu máximo e novos conceitos surgem para levar Star Wars a ser o que é hoje.

Com a precipitada fuga do planeta Hoth por parte dos Rebeldes devido a ofensiva do Império, Han Solo (Harrisson Ford) e Leia (Carrie Fischer) têm de fugir juntos na célebre nave Millenium Falcon, e Luke Skywalker tem de se dirigir ao sistema de Dagobah, em que terá o seu treinamento Jedi com um antigo mestre que aqui tem sua primeira aparição: Yoda (Frank Oz). Esse é o plot inicial da trama que, mantendo sempre um tom de urgência, irá desenvolver toda a química de relação entre o sedutor canastrão e a princesa durona personificados nas respectivas figuras carismáticas de Solo e Leia em meio a uma série de desventuras.O casal disfuncional é acompanhado por Chewbacca (Peter Mayhew) e C3-Po (Anthony Daniels), que mantêm o tom de humor ao lado do romance dos protagonistas, em um filme que foca, num primeiro momento, mais em um tom aventuresco do que sombrio, ainda que esse paradigma não permaneça por toda a película.

Além disso, há o enredo envolvendo Luke Skywalker, que ao lado de Yoda, revela um pouco mais da filosofia Jedi e a importância do jovem Padawan (conceito presente apenas na trilogia preludio) para restabelecer o equilíbrio à Força. Exatamente nesse treinamento e nessa interação entre Skywalker e Yoda é que Star Wars começa a mostrar a sua verdadeira força narrativa: muito mais do que apenas uma aventura pitoresca espacial, Star Wars fala sobre a eterna luta entre o bem e o mal, de filosofias e religiões contrastantes, de guerra e paz, de governos ditatoriais e democráticos, do embate entre a sabedoria dos mais velhos e a tempestuosidade dos mais novos, revelando que essa saga não era somente um conjunto de filmes bem acertados mas sim um épico repleto de alegorias sobre as questões mais amplas da vida humana que veio para se eternizar na história da sétima arte. 

Envolto em cenas clássicas, como a do primeiro grande confronto entre Darth Vader e Luke Skywalker e a revelação de que aquele era seu pai, até a memorável sequência em que o mestre Yoda mostra a Luke que tudo é possível por meio da Força ao erguer a sua nave X-Wing do lago para a terra; O Império Contra-Ataca consegue fazer a transição entre Uma Nova Esperança, que tinha grande potencial, ainda que não um rumo certo a trilhar, para montar uma história que, paulatinamente, torna-se mais sombria com, as complicações sofridas pelos Rebeldes, o congelamento de Solo e a perda da mão de Luke em um luta travada com o seu próprio pai. Tal paradigma, levou Star Wars a alcançar um novo patamar com maior carga dramática e um suspense e expectativa para saber como aquele enredo iria culminar no sexto episódio em seu apoteótico final. Será que Luke iria terminar o seu treinamento e se tornar um grande Jedi? Será que o Império de Vader e de seu mestre, o próprio Imperador, iriam ser derrotados pelos Rebeldes? Qual seria o destino de Han Solo?
Essa obra ganhou um status tão primordial na sétima arte, que tais questionamentos se igualaram a spoilers sobre os acontecimentos de um filme que retrata alguma história bíblica, logo é difícil para um espectador assistir ao Episódio V de Star Wars e compreender todo esse escopo de possibilidades abertas nesse filme para a sua futura sequência. Contudo, na época de seu lançamento, O Império Contra-Ataca fomentou uma série de questionamentos deixados em aberto por um roteiro ágil e que soube deixar diversas pontas soltas para que o episódio VI pudesse ser esperado com alta expectativa.
Esse clássico definitivamente não pode ser assistido com os olhos do presente, exausta de tantos filmes cheios de CGI e de pouco valor ao enredo em si; tem, contudo, de ser apreciada com os olhos de quem estivesse entrando “nessa galáxia muito, muito distante” pela primeira vez, a fim de compreender a beleza e a sagacidade narrativa criada por George Lucas, bem como a grandeza de se utilizar mais de efeitos práticos, ainda que por vezes rústicos, do que a nova e pouco inspirada “tela verde”.


NOTA (8.5/10):

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