MATHEUS R. B. HENTSCHKE
Star Wars ultrapassou quase todos os limites possíveis na
sétima arte. Mais do que ser uma série de filmes bem-sucedidos e ter realizado
enormes contribuições em termos de efeitos visuais para o cinema, essa saga se
tornou uma espécie de religião entre uma sólida e fiel base de fãs ao redor do
globo, sendo quase uma espécie de patrimônio cultural histórico obrigatório.
Entretanto, essa space opera só viria a se tornar o fenômeno que é, com as
ideias que George Lucas teve para Star Wars V - O Império Contra-Ataca, visto
que conceitos como o de Star Wars ganhar a sua forma episódica e de Darth Vader (David Prowse) ser o pai de Luke Skywalker (Mark Hammil) só se deram na criação desse filme.
O Império Contra-Ataca mostra as consequências da Batalha
de Yavin, em que os Rebeldes conseguiram sua primeira e expressiva vitória
contra o Império Galáctico, com a destruição da máquina de guerra imperial- a
Estrela da Morte- pelo jovem Luke Skywalker. A história, que se passa 3 anos
após esses eventos ocorridos em Star Wars IV - Uma Nova Eperança, apresenta o
Império, por meio de Lorde Vader e seus generais, apertando o cerco em cima dos
Rebeldes, que, por sua vez, têm de se organizar e manter a chama da revolução
acesa. Contudo, muito mais do que uma evolução narrativa em relação a Uma Nova
Esperança, que tinha um tom leve e despretensioso, o Episódio V consegue levar
essa saga épica ao seu apogeu, em que personagens com potencial alcançam seu
máximo e novos conceitos surgem para levar Star Wars a ser o que é hoje.
Com a precipitada fuga do planeta Hoth por parte dos Rebeldes
devido a ofensiva do Império, Han Solo (Harrisson Ford) e Leia (Carrie Fischer)
têm de fugir juntos na célebre nave Millenium Falcon, e Luke Skywalker tem de
se dirigir ao sistema de Dagobah, em que terá o seu treinamento Jedi com um
antigo mestre que aqui tem sua primeira aparição: Yoda (Frank Oz). Esse é o plot inicial
da trama que, mantendo sempre um tom de urgência, irá desenvolver toda a
química de relação entre o sedutor canastrão e a princesa durona personificados
nas respectivas figuras carismáticas de Solo e Leia em meio a uma série de
desventuras.O casal disfuncional é acompanhado por Chewbacca (Peter Mayhew) e C3-Po (Anthony Daniels), que mantêm
o tom de humor ao lado do romance dos protagonistas, em um filme que foca, num
primeiro momento, mais em um tom aventuresco do que sombrio, ainda que esse
paradigma não permaneça por toda a película.
Além disso, há o enredo envolvendo Luke Skywalker, que ao
lado de Yoda, revela um pouco mais da filosofia Jedi e a importância do jovem
Padawan (conceito presente apenas na trilogia preludio) para restabelecer o
equilíbrio à Força. Exatamente nesse treinamento e nessa interação entre
Skywalker e Yoda é que Star Wars começa a mostrar a sua verdadeira força
narrativa: muito mais do que apenas uma aventura pitoresca espacial, Star Wars
fala sobre a eterna luta entre o bem e o mal, de filosofias e religiões
contrastantes, de guerra e paz, de governos ditatoriais e democráticos, do
embate entre a sabedoria dos mais velhos e a tempestuosidade dos mais novos,
revelando que essa saga não era somente um conjunto de filmes bem acertados mas
sim um épico repleto de alegorias sobre
as questões mais amplas da vida humana que veio para se eternizar na história
da sétima arte.
Envolto em cenas clássicas, como a do primeiro grande
confronto entre Darth Vader e Luke Skywalker e a revelação de que aquele era
seu pai, até a memorável sequência em que o mestre Yoda mostra a Luke que tudo
é possível por meio da Força ao erguer a sua nave X-Wing do lago para a terra;
O Império Contra-Ataca consegue fazer a transição entre Uma Nova Esperança, que
tinha grande potencial, ainda que não um rumo certo a trilhar, para montar uma
história que, paulatinamente, torna-se mais sombria com, as complicações
sofridas pelos Rebeldes, o congelamento de Solo e a perda da mão de Luke em um
luta travada com o seu próprio pai. Tal paradigma, levou Star Wars a alcançar
um novo patamar com maior carga dramática e um suspense e expectativa para
saber como aquele enredo iria culminar no sexto episódio em seu apoteótico
final. Será que Luke iria terminar o seu treinamento e se tornar um grande Jedi?
Será que o Império de Vader e de seu mestre, o próprio Imperador, iriam ser
derrotados pelos Rebeldes? Qual seria o destino de Han Solo?
Essa obra ganhou um status tão primordial na sétima arte,
que tais questionamentos se igualaram a spoilers sobre os acontecimentos de um
filme que retrata alguma história bíblica, logo é difícil para um espectador
assistir ao Episódio V de Star Wars e compreender todo esse escopo de
possibilidades abertas nesse filme para a sua futura sequência. Contudo, na época
de seu lançamento, O Império Contra-Ataca fomentou uma série de questionamentos
deixados em aberto por um roteiro ágil e que soube deixar diversas pontas
soltas para que o episódio VI pudesse ser esperado com alta expectativa.
Esse clássico definitivamente não pode ser assistido com os
olhos do presente, exausta de tantos filmes cheios de CGI e de pouco valor ao
enredo em si; tem, contudo, de ser apreciada com os olhos de quem estivesse
entrando “nessa galáxia muito, muito distante” pela primeira vez, a fim de
compreender a beleza e a sagacidade narrativa criada por George Lucas, bem como
a grandeza de se utilizar mais de efeitos práticos, ainda que por vezes
rústicos, do que a nova e pouco inspirada “tela verde”.
Comentários
Postar um comentário