GUILHERME W. MACHADO
Banho de Sangue pulsa, como pulsa o sangue vermelho escarlate do filme (sangue quanto mais artificial mais divertido, não?), num ritmo frenético e intimidante da percussão que rege sua trilha sonora. Em toda brilhante carreira de Mario Bava, nunca houve um filme tão preocupado com a relação entre o ato de olhar e a própria morte. Os personagens, em sua maioria, encontram suas mortes neste clássico pelo simples ato de olhar ou de ter olhado em momentos inapropriados.
Radicalizando a cartilha escrita por Hitchcock em Janela Indiscreta [1954] e por Michael
Powell em A Tortura do Medo [1960],
Mario Bava acusa-nos – alguns anos antes de Argento dominar a técnica como
ninguém – pelas mortes de seus personagens. Não somos mais apenas voyeurs
curiosos, agora temos participação efetiva, somos a câmera que tira a vida dos
personagens com requintes de crueldade.
A relação de Banho
de Sangue com o ato de olhar expressa-se, também, frequentemente na trama do filme. Pode ser
visto nos closes do olho do assassino que espreita os adolescentes; até mesmo no
olhar melancólico da condessa para a cabana de seu filho abandonado, como quem
antecipa a própria morte. Esse mesmo olhar, misteriosamente lúcido, pode ser
visto nos últimos momentos da cartomante, segundos antes de ter sua cabeça
decepada.

Com toda limitação financeira da produção, Bava
consegue criar um filme de ritmo alucinante. O nível de domínio técnico que tem
sobre sua função pode ser sentido em cada sequência, começando já pelo
primeiríssimo plano, com a câmera subjetiva da mosca em seus momentos finais.
Nesse primeiro momento, através de uma linguagem puramente audiovisual, ele
traça um paralelo entre humanos e insetos, e sua relação frente à morte,
reforçado por elementos da trama no decorrer do filme. Sua perícia é muito bem
acompanhada por uma frenética trilha sonora muito bem manejada em conjunto com
a velocidade impressa pela ótima montagem.
Aplaudido muito pelo fato de ser o filme que criou o
slasher, Banho de Sangue é uma
obra-prima do terror que se sustenta mesmo hoje, mais de 40 anos depois, e que
merece reconhecimento pelas suas próprias qualidades, tão notáveis quanto seu
valor histórico.
NOTA (4/5)
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