GUILHERME W. MACHADO
Como fã de quadrinhos - e uma pessoa com apego
nostálgico aos super-heróis, que perderam magia na mesma medida em que foram
ganhando popularidade -, reconheço minha completa predisposição em sair
satisfeito do cinema após ver esse filme. Capitão
América: Guerra Civil é um filme cheio de conflitos (cada personagem
carrega os seus, fora aqueles que concernem a todos), com uma carga de
adrenalina bem elevada e [rasos] embates filosóficos sobre o autoritarismo – semelhante
nisso ao seu predecessor, Capitão
América: O Soldado Invernal – que, na leveza da proposta, em nada machucam.
(Texto SEM SPOILERS)
É impressionante como os irmãos Russo obtiveram
sucesso na enlouquecedora tarefa de balancear todos esses personagens de
habilidades diversas e níveis bem distintos de força num mesmo filme de menos
de 2h30. Cada personagem teve o seu devido espaço e suas motivações são bem
claras, o que foi fundamental na dinâmica do grande conflito no aeroporto, que
não abre espaço para a gratuidade recorrente do cinema de super-heróis atual.
Evidentemente que esse é um trabalho já construído por todo universo
cinematográfico da Marvel até o presente, que, embora irregular, dá uma base
sólida aos personagens e à própria trama.
Capitão América:
Guerra Civil é, de muitas formas,
o filme síntese desse universo até então. Ausências à parte – dois seres
particularmente fortes tiveram de ser preservados por motivos lógicos –,
praticamente todos personagens são reunidos nessa saga épica, que apresenta-se
como uma inevitável resposta aos eventos construídos ao longo de filmes como Vingadores (os dois) e Capitão América 2. Guerra Civil traz
essa urgência de assuntos mal resolvidos do passado como estopim para a
desestruturação, possivelmente irreparável, do grupo de heróis.
Possivelmente o conceito que mais me atraiu na obra
não envolve diretamente os heróis. Precisou de um simples ser humano (não
alguns, um só), com a motivação certa, não um semideus renegado ou um sistema
de inteligência artificial psicótico, para realmente desmanchar esse grupo de
seres sobrenaturalmente fortes. O roteiro, claro, foi muito bem amarrado nessa
trama psicológica. Não é a destruição massiva ou as ambições cartunescas
(destruição do mundo, blá, blá, blá) que têm a vez nesse caso; Capitão América: Guerra Civil, não é, aliás, um filme de vilões ou
mocinhos, eles simplesmente não existem aqui. Todos personagens agem de forma compreensível
de acordo com aquilo que acreditam ser a coisa certa, e isso é um grande
achado.
Enfim, reconheço prontamente que não tenho isenção
para encarar esse filme como eu encaro os outros. Não sou exatamente um fã
inveterado de quadrinhos, não acompanho todas notícias referentes a esse
universo nem sei todas referências de cabeça, mas tenho sim uma atração forte
pela mitologia dos super-heróis, seja nos quadrinhos, nos desenhos animados, no
cinema, onde for.
NOTA (3.5/5.0)
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