Pular para o conteúdo principal

Capitão América: Guerra Civil (Anthony & Joe Russo, 2016)

GUILHERME W. MACHADO

Como fã de quadrinhos - e uma pessoa com apego nostálgico aos super-heróis, que perderam magia na mesma medida em que foram ganhando popularidade -, reconheço minha completa predisposição em sair satisfeito do cinema após ver esse filme. Capitão América: Guerra Civil é um filme cheio de conflitos (cada personagem carrega os seus, fora aqueles que concernem a todos), com uma carga de adrenalina bem elevada e [rasos] embates filosóficos sobre o autoritarismo – semelhante nisso ao seu predecessor, Capitão América: O Soldado Invernal – que, na leveza da proposta, em nada machucam.

(Texto SEM SPOILERS)

É impressionante como os irmãos Russo obtiveram sucesso na enlouquecedora tarefa de balancear todos esses personagens de habilidades diversas e níveis bem distintos de força num mesmo filme de menos de 2h30. Cada personagem teve o seu devido espaço e suas motivações são bem claras, o que foi fundamental na dinâmica do grande conflito no aeroporto, que não abre espaço para a gratuidade recorrente do cinema de super-heróis atual. Evidentemente que esse é um trabalho já construído por todo universo cinematográfico da Marvel até o presente, que, embora irregular, dá uma base sólida aos personagens e à própria trama.
Capitão América: Guerra Civil é, de muitas formas, o filme síntese desse universo até então. Ausências à parte – dois seres particularmente fortes tiveram de ser preservados por motivos lógicos –, praticamente todos personagens são reunidos nessa saga épica, que apresenta-se como uma inevitável resposta aos eventos construídos ao longo de filmes como Vingadores (os dois) e Capitão América 2. Guerra Civil traz essa urgência de assuntos mal resolvidos do passado como estopim para a desestruturação, possivelmente irreparável, do grupo de heróis.

Possivelmente o conceito que mais me atraiu na obra não envolve diretamente os heróis. Precisou de um simples ser humano (não alguns, um só), com a motivação certa, não um semideus renegado ou um sistema de inteligência artificial psicótico, para realmente desmanchar esse grupo de seres sobrenaturalmente fortes. O roteiro, claro, foi muito bem amarrado nessa trama psicológica. Não é a destruição massiva ou as ambições cartunescas (destruição do mundo, blá, blá, blá) que têm a vez nesse caso; Capitão América: Guerra Civil, não é, aliás, um filme de vilões ou mocinhos, eles simplesmente não existem aqui. Todos personagens agem de forma compreensível de acordo com aquilo que acreditam ser a coisa certa, e isso é um grande achado.
Enfim, reconheço prontamente que não tenho isenção para encarar esse filme como eu encaro os outros. Não sou exatamente um fã inveterado de quadrinhos, não acompanho todas notícias referentes a esse universo nem sei todas referências de cabeça, mas tenho sim uma atração forte pela mitologia dos super-heróis, seja nos quadrinhos, nos desenhos animados, no cinema, onde for.

NOTA (3.5/5.0)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Explicação do Final de Birdman

 (Contém Spoilers)                                            TEXTO DE: Matheus R. B. Hentschke    Se inúmeras vezes eu julguei Birdman como pretensioso, terei de ser justo e dizer o mesmo de mim, uma vez que tentar explicar o final de uma obra aberta se encaixa perfeitamente em tal categoria. Entretanto, tentarei faze-lo apenas a título de opinião e com a finalidade de gerar discussões acerca do mesmo e não definir com exatidão o que Iñarritu pretendia com seu final. 

Interpretação do Filme Estrada Perdida (Lost Highway, 1997)

GUILHERME W. MACHADO Primeiramente, gostaria de deixar claro que A Estrada Perdida [1997], como muitos filmes de David Lynch, é uma obra tão rica em simbolismos e com uma narrativa tão intrincada que não é adequado afirmar tê-la compreendido por completo. Ao contrário de um deturpado senso comum, entretanto, creio que essas obras (aqui também se encaixa o mais conhecido Cidade dos Sonhos ) possuem sentido e que não são apenas plataformas nas quais o diretor simplesmente despeja simbolismos para que se conectem por conta própria no acaso da mente do espectador. Há filmes que mais claramente – ainda que não tão ao extremo quanto dito, pois não existe verdadeira gratuidade na arte – optam pela multiplicidade interpretativa, como 2001: Uma Odisseia no Espaço [1968] e Ano Passado em Marienbad [1961], por exemplo. Não acredito ser o caso dos filmes de Lynch, nos quais é possível encontrar (mediante um esforço do espectador de juntar os fragmentos disponíveis e interpretá-los) en

10 Giallos Preferidos (Especial Halloween)

GUILHERME W. MACHADO Então, pra manter a tradição do blog de lançar uma lista temática de terror a cada novo Halloween ( confira aqui a do ano passado ), fico em 2017 com o top de um dos meus subgêneros favoritos: o Giallo. Pra quem não tá familiarizado com o nome  –  e certamente muito do grande público consumidor de terror ainda é alheio à existência dessas pérolas  –  explico rapidamente no parágrafo abaixo, mas sem aprofundar muito, pois não é o propósito aqui fazer um artigo sobre o estilo. Seja para já apreciadores ou para os que nunca sequer ouviram falar, deixo o Giallo como minha recomendação para esse Halloween, frisando  –  para os que torcem o nariz  –  que essa escola de italianos serviu como referência e inspiração para muitos dos que viriam a ser os maiores diretores do terror americano, como John Carpenter, Wes Craven, Tobe Hooper, e até diretores fora do gênero, como Brian De Palma e Quentin Tarantino.