GUILHERME W. MACHADO
Menos é mais. Depois de uma temporada cujos grandes
sucessos de público e premiação foram Mad
Max: Estrada da Fúria e O Regresso,
A Qualquer Custo vem a calhar como
exemplo de um cinema que, mesmo transitando entre os gêneros de ação e western
(embora não seja estritamente nem um nem outro), constrói seus atrativos
justamente pela economia. Não que exista
um modelo melhor de fazer ação – gosto muito de grandes produções virtuosas –,
mas às vezes algumas variações aparecem bem no momento certo, quando mais
sentimos falta de algo, e o novo filme de David Mackenzie é um desses casos.
É fácil falar que o filme funciona tão bem nessa
proposta por seus atrativos estarem mais direcionados aos seus personagens e ao
lado dramático que acrescentam a obra, mas também é verdade que A Qualquer Custo acerta sim como filme
de gênero. Mackenzie filma suas cenas de ação com muita parcimônia e precisão;
o curioso, entretanto, é o quão bem ritmado o filme consegue ser (muito
pelo bom trabalho de edição) SEM entrar naquele estilo à la Greengrass de ação
hiper-decupada. A primeira cena, por exemplo, na qual a câmera acompanha de
longe uma funcionária chegando para abrir o branco (e capturando ao fundo a
calma vida de uma pequena cidade interiorana cedo na manhã), seguida por dois homens
encapuzados que pretendem roubá-lo, estabelece imediatamente o tom do filme,
que nunca é traído.
Acredito que seja a sadia mistura de gêneros e
abordagens do filme que o conferem essa sua identidade que, embora não seja
estritamente original, é seguramente própria e envolvente. Pode-se encontrar os
roadmovies da virada dos anos 60 pra 70, os filmes de assalto a banco, os westerns,
e até alguns toques estilo irmãos Coen (principalmente pelo uso pontual do humor
numa história bastante séria). Por outro lado, A Qualquer Custo nunca parece uma salada de frutas, pelo contrário
sempre se faz sentir como uma obra tão coesa na sua proposta (tanto estética quanto
temática) que é difícil apontar-lhe defeitos.
O trio de atores é um destaque, e Jeff
Bridges não tem dificuldades para encontrar-se nesse tipo de papel, mas quem
realmente rouba os holofotes, tendo sido equivocadamente ignorado pelas
premiações, é Ben Foster. É louvável a clareza com a qual ele apresenta seu
personagem, que não cai naquele estereótipo raso de criminoso porra-louca que
só busca adrenalina. Embora ele busque mesmo a ação, há duas esferas que o
guiam: essa (ação), e o seu compromisso com a família. E isso aplica-se, na
verdade, ao filme como um todo. A
Qualquer Custo, dentre tantas coisas, é um filme sobre família, e, mesmo
com todos seus outros atrativos, são essas relações que tornam a obra tão
sincera e cativante de assistir.
Outro ponto chave do roteiro, e seguramente um dos
pilares do filme, é a questão da crise. Taylor Sheridan (roteirista também de Sicario) aborda – às vezes com pouca
sutileza, verdade – os impactos da crise financeira, e mesmo da pobreza de
forma genérica, nessas partes menos visíveis dos Estados Unidos. A luta do
personagem de Foster pode ser contra si mesmo, mas a do personagem de Pine
seguramente é contra o sistema, contra o capitalismo oportunista dos bancos que
mantém aquelas pessoas simples dependentes eternos de seus serviços por anos
até que possam confiscar suas terras. O que torna o final a ironia perfeita: lutar
contra o sistema só te leva até certo ponto, eventualmente ou você morre ou
passa a fazer parte dele.
NOTA (3.5/5.0)
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