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Mãe! (Darren Aronofsky, 2017)


GUILHERME W. MACHADO


Então... Demorei, confesso, para escrever esse texto. Não porque precisava de tempo para pensar, afinal o filme é tão plano quanto as palavras de seu diretor, revelando prontamente suas intenções na tentativa de passa-las por algo mais complexo. Demorei precisamente porque a busca por importância na qual incorrem diretores como Aronofsky é, em geral, apelativa a um público sempre à procura de um gênio; pensei, portanto, se era uma polêmica que valia a pena ser comprada (até porque incitar essas discórdias insossas faz parte da estratégia de venda de Mãe!, e isso eu não queria alimentar de jeito nenhum).


Verdade é que o filme-alegoria está em moda. Mais em moda ainda é anunciar um filme como sendo uma alegoria, subestimando a capacidade do público para percebe-lo como tal – quando, sinceramente, essas ditas alegorias costumam ser bem francas e diretas – e, claro, assim vendendo muito mais ingressos. Mas Darren Aronofsky foi além disso em Mãe!, ele fez um filme que é várias alegorias ao mesmo tempo (!). É justamente essa constante indecisão sobre o tom ou mesmo a temática do filme que mais o machuca.
Aquecimento global, referências bíblicas (Ed Harris e Michelle Pfeiffer como Adão e Eva foi especialmente ineficiente), opressão feminina, até o artista reprimido, são alguns dos temas (clichês, na realidade) de um filme que tenta ser metafórico e inquisitivo, mas acaba sendo derivativo, na melhor das hipóteses. Não há maturidade no trato desses assuntos, que nunca saem de um enfadonho lugar-comum. Aronofsky até tenta abraçar o seu caos criativo e fazer dele algo interessante justamente pela sua inerente desorientação – o que eventualmente funciona no filme – mas esses lapsos são rapidamente anulados por péssimos momentos pretensiosos, como aquela baboseira sobre o “criador” no fim. A escrita, aliás, é especialmente ruim: os personagens são planos, unidimensionais; os diálogos explicativos e com frases baratas de efeito; e a trama em si opera num loop óbvio de referências que sufocam qualquer frescor de originalidade que a obra poderia conter.

Os problemas continuam quando o autor também tenta apoiar-se em referências cinematográficas na sua construção formal. Que Aronofsky imita Polanski já se sabe há anos, e Cisne Negro (2010) foi o melhor resultado desse processo. Em Mãe! ele adiciona – pedindo perdão antecipado pela heresia – Buñuel e Bergman (particularmente A Hora do Lobo) na mistura, com um toque de O Filho de Saul (2015) – que já foi uma bomba – na movimentação de câmera, que é tão derivativa quanto o enredo. Metade do trabalho cênico de Aronofsky parece estar ali pra explorar as duas coisas boas que tem no seu filme: Jennifer Lawrence e a casa, cujo design de produção é bem bacana. Não tem outro motivo real para grudar a câmera na atriz e fazê-la perambular pela casa (frequentemente em planos inúteis), além, claro, do fato do diretor estar envolvido romanticamente com ela.

No fim Mãe! é tão sem vida quanto seus personagens sem nome e tão escandaloso quanto o typing de seu título, com uma exclamação no fim, um grito por atenção. Podem me chamar de hater, ou até de recalcado, tanto faz, mas fato é que esses filmes feitos para “causar” – e desse balaio Lars Von Trier é rei – são geralmente previsíveis em suas provocações e dotados de uma rebeldia adolescente, mas sempre cativam sua parcela fervorosa de público que lutará com unhas e dentes pelo seu reconhecimento e se defenderão dos detratores com o antigo clichê: não entendeu as referências. Por favor...

NOTA (1.5/5)

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