GUILHERME W. MACHADO
Dentre tantas, uma das habilidades
de Spielberg como contador de histórias deve ser reconhecida, poucos cineastas
assumem projetos em princípio tão desinteressantes e fazem deles bons filmes.
Não com a frequência que ele tem feito, ainda mais recentemente. Sério, alguém
queria mais um filme sobre a liberdade da imprensa? Ou sobre o embate dessa com
o governo Nixon? Não, mas Spielberg fez, e fez bem. Que venham Indiana Jones 5 e o remake de West Side Story!
Claro que sei que o momento
político norte americano favorece um filme de imprensa x governo (todo mundo tá
cansado de saber até). Mas as qualidades que carregam The Post, especialmente para um público não americano, pouco ou
nada tem a ver com política, e sim com storytelling. Muito como aconteceu com
outro longa seu recente, Ponte dos
Espiões (2015), é um filme que carrega uma pieguice que, embora sempre
presente na carreira de mais de 4 décadas do diretor, nunca foi tão evidente em
seu cinema quanto agora, mas que a sustenta com anos e anos de experiência
cinematográfica e alto refinamento narrativo, ao ponto de torna-la palatável –
para os mais coniventes até cativante.
Em uma palavra: ritmo. Em The Post a história movimenta-se com
tamanha dinâmica (tão bem cadenciada para sempre ser urgente, mas nunca
sufocante) que acompanha-la com boa vontade e curiosidade é o mínimo que o
espectador sente que deve fazer. Boa parte desse ritmo vem da ótima montagem,
mas deve muito também ao método de direção de Spielberg – vale lembrar, mesmo
que hoje já muito (mal) imitado, ele foi um dos pioneiros no estabelecer as
regras para o mainstream hollywoodiano pós anos 70 –, com a câmera
frequentemente em movimento, e todo seu notável arsenal de pans e travellings
(habilidade sua que nem sempre recebe o devido crédito).
Se por um lado é óbvio o
patriotismo, e mesmo um otimismo generalizado, na carreira de Spielberg, sendo
esse filme nenhuma exceção, em The Post
há um asterisco interessante. Se o discurso feminino, em particular, abraça
todo esse otimismo (e nos tempos atuais não teria como, e nem deveria, ser
diferente), com o político não é bem assim. Ok, a imprensa vence, há todos
momentos emocionais esperados, as defesas constitucionais habituais, tudo...
Mas, a gloriosa vitória é pouco comemorada antes que o filme acabe numa nota
sombria, com o presidente Nixon (que aliás teve suas poucas aparições filmadas
de forma brilhantemente evocativa) vetando permanentemente o acesso dos
jornalistas do The Post à Casa
Branca e, na cena seguinte, o filme encerra com o episódio que marcou o início
do escândalo de Watergate, um dos mais graves da política americana.
Enfim, enquanto souber
converter seus maneirismos em estilização Spielberg ainda será um diretor
interessante de acompanhar. Aqui muito mais Capra do que Ford, tanto para o bem,
mas mais para o mal, ele indulge em alguns momentos desnecessários. Veículo para os
atores? Talvez, mas acho que não, os esforços de Spielberg pareceram muito mais
direcionados na ambientação estilizada das tensões políticas e idealísticas. No
fim, por baixo de algumas dramatizações ineptas e belas texturas visuais (Spielberg
brincando com linhas e padrões visuais foi bem agradável de assistir), The Post é muito bom, mas não
particularmente marcante.
NOTA (3/5)
Ainda to achando as críticas a The Post muito generosas. Acho que é por causa da indicação.
ResponderExcluirOlha Bruna, sempre achei que a indicação, se muito, mais aumenta as suspeitas sobre um filme (até pq dizer que o Oscar é um parâmetro duvidoso seria um eufemismo), mas realmente não é nenhum filmaço, então, como qualquer filme, vai agradar a alguns e a outros não. Duvido que gere reações extremas, tanto positivas quanto negativas, é muito neutro pra isso. Obrigado por aparecer!
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