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12 Anos de Escravidão (Steve McQueen, 2013)


GUILHERME W. MACHADO

Muito está se falando sobre o tão esperado 12 Anos de Escravidão, o provável vencedor do Oscar de Melhor Filme em 2014. É bem verdade que o filme de Steve McQueen dá o que falar, de uma maneira ou de outra. Nunca o tema da escravidão foi mostrado com tanta crueza e realidade, pelo menos não com a abrangência (em termos de exibição ao público) que esse filme alcançou. Tarantino já provoca repugnância em relação à escravidão com seu Django Livre, mas numa proposta mais descontraída. Se ele é tudo isso que falam eu tenho minhas dúvidas; entretanto, crédito deve ser dado pelo ímpeto e pelo sucesso já alcançado.


Todos – e eu me incluo aqui – enchem a boca para reclamar que, hoje em dia, os filmes que ganham destaque, vencem premiações e são vistos pela grande massa são as grandes produções, muitas vezes de qualidade duvidosa, de Hollywood. 12 Anos de Escravidão surge para contestar tal afirmação, uma vez que foi um filme incrivelmente barato em comparação com os grandes “filmes de premiação” e não passa de uma “simples” produção independente de Brad Pitt. Aproveito essa informação para exaltar o diretor Steve McQueen no ato de criar um filme completo e envolvente com aparência de alta produção, dispondo de um orçamento que não chega a ponto de ser baixo, mas não permite muitos luxos. Não se sente, em momento algum, falta de recursos.


Por outro lado, temos aqui uma história comum contada com requinte (que a faz parecer mais fresca do que realmente é). Não que isso seja um crime, todavia a abordagem de McQueen – diretor de imenso potencial – por si só não torna 12 Anos de Escravidão um grande filme. Mesmo com o apoio das boas atuações, que foram supervalorizadas pelo teor carregado da obra, falta fluência para o filme, que depende muito do choque, verdadeiramente eficiente, para manter a atenção do espectador. Alguns momentos são excelentes, mas são dispersos e falta constância, uma vez que há outras passagens quase embaraçosas (muitas envolvendo Fassbender). Entre os melhores, destaco a cena da tentativa de enforcamento do protagonista, na qual ele fica uma grande quantidade de tempo pendurado e tendo que fazer um enorme esforço para não sufocar até que alguém o resgate, mesmo que todos já soubessem de sua situação a tempo. É uma cena brutal e um terrível choque de realidade tanto para Solomon (Chiwetel Ejiofor) quanto para nós.

Sobre as atuações eu gostaria de aprofundar meu comentário anterior. Creio que elas estejam sendo supervalorizadas nas premiações, com Chiwetel Ejiofor recebendo uma verdadeira montanha de prêmios da crítica, assim como Nyong’o, que fora seu sofrimento físico, não chega a fazer grande coisa. Embora haja alguma qualidade no trabalho dos dois supracitados, é difícil ignorar os excessos em que incorrem, e com os quais tentam justificar "na marra" a importância daquilo que representam – que realmente é muito importante e justamente por isso não precisaria ser ressaltado com tanta teatralidade. Já Fassbender, ator que gosto bastante, beira ao desastre, com uma atuação muito exagerada e cartunesca.
Para concluir, elogio o belíssimo trabalho visual da obra e sua ótima montagem, que sem dúvida aumentam – e muito – seu valor. Por mais que não seja agradável, sequer deveria ser, nem seja um excelente filme, 12 Anos de Escravidão é uma obra necessária, pelo seu valor histórico, e até artístico – principalmente pela grande direção de McQueen. É importante, sim, encarar sem apaziguamentos (como a maioria dos outros filmes sobre o assunto faz) os erros do passado e reconhecer os absurdos enfrentados pela população afro-americana durante esse período.

NOTA (3/5)

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