GUILHERME W. MACHADO
O
Jogo da Imitação confronta-se com uma
tarefa quase tão difícil quanto a de seu protagonista: entrar na mente de um
homem “extraordinário” (no sentido literal da palavra) e torná-la compreensível
para as pessoas “ordinárias”. No início da década de 60, um cineasta visionário
buscou algo semelhante, filmando um dos mais espetaculares estudos de personagem
da história do cinema acerca de um personagem real e durante uma guerra real,
essa obra segue como referência até hoje: Lawrence
da Arábia (David Lean, 1962). Infelizmente, as semelhanças entre o novo
filme da Weinstein Company e o clássico de Lean limitam-se apenas à ambição,
passando longe da realização.
Independentemente da superficialidade do roteiro e do
pragmatismo exagerado da direção e da montagem (sobre as quais falarei em
seguida), crédito deve ser dado a Benedict Cumberbatch (Sherlock e 12 Anos de
Escravidão). O ator se entregou completamente ao desafio e conseguiu, por
algum milagre, fazer de Turing um personagem divertido e envolvente. A
intensidade de Cumberbatch, mais explorada na segunda metade do filme, é
admirável e, mesmo com todas as caricaturas impostas pelo roteiro ao
personagem, sua atuação é fantástica. Convincente e bem expressivo. Não se pode
dizer o mesmo sobre seus colegas de cena, uma vez que todos, sem qualquer
exceção, coadjuvantes do filme foram inexpressivos e dispensáveis, de tal forma
que eu me pergunto o que, além do poder de Harvey Weinstein, fez com que Keira
Knightley fossa indicada a qualquer premiação que fosse (no caso, Oscar, Globo
de Ouro, SAG, Critics Choice Awards, entre outras).
Morten Tyldum é outro que gera dúvidas sobre suas
indicações, uma vez que se contentou numa direção extremamente convencional e
pragmática, sem acrescentar absolutamente nada ao filme e deixando todo o
trabalho para Cumberbatch. A montagem entra na linha do diretor e dilapida
ferozmente todas as cenas, extraindo delas qualquer possibilidade de
envolvimento, quebrando inclusive momentos que requerem certa carga emocional
(como na cena do rompimento entre Turing e Joan, por exemplo). A parte técnica
(principalmente a fotografia e o design de produção), por sua vez, segue outra
mentalidade e recai num artificialismo desproporcional, no esforço de fazer
tudo parecer muito bonito. Antes tivesse apostado em um visual mais realista.
O
Jogo da Imitação se sustenta, por
conseguinte, na atuação de seu protagonista que, com um grande trabalho, dá
algo positivo ao espectador. A falta de ritmo e a sensação de ter visto um
filme de duas horas e meia (enquanto ele tem, na verdade, 113 minutos de
duração) revelam um filme arrastado e pouco interessante. O pragmatismo de
Tyldum, que funcionou no seu competente, porém nada mais do que divertido,
suspense norueguês (Headhunters),
passou anos-luz de distância do deslumbramento sensorial de Lean em Lawrence.
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